Maurício Andrés Ribeiro
A água se torna assunto prioritário de urbanistas e planejadores quando falta, quando se apresenta com má qualidade ou quando seu excesso causa inundações nas cidades. Então, toma-se consciência de sua importância. Desperta-se para a necessidade de cuidar bem dela, preservá-la e proteger as fontes de abastecimento.
Cresce no mundo o movimento pelas cidades sensíveis à água, que tomam consciência dela, conhecem melhor seu ciclo, como geri-lo e planejá-lo. Desenvolvem-se tecnologias para economizá-la. Na Austrália, país severamente afetado por escassez de águas, uma universidade criou um centro de cidades sensíveis à água.
Em muitas cidades os rios tornaram-se invisíveis ao serem canalizados, cobertos com pistas de rolamento para veículos. Sistemas de alerta para interditar tráfego em períodos de pico de cheia passam a ser necessários nos fundos de vales já ocupados.
É possível recuperar os rios e reintegrá-los à paisagem urbana, como mostram várias experiências no mundo. No Porto, em Portugal, há trabalho relevante de revitalização de rio urbano de Pedro Teiga do Ribeira da Granja,. Manter parques lineares ao longo dos fundos de vales é uma forma de reduzir riscos à vida das pessoas e prejuízos econômicos.
Várias cidades promovem a renaturalização de fundos de vales, com demolição de obras de avenidas sanitárias, devolvendo as várzeas aos rios. No Japão esse tipo de cuidado é praticado no urbanismo: a enchente inunda áreas não edificadas e quando ela se vai retomam-se as atividades daquela área verde.
Várzea ocupada e várzea protegida |
Renaturalização de rios urbanos |
A pesquisa
ambiental e a geração de conhecimentos locais constituem um pré-requisito para
elaborar os projetos e sua posterior
execução.
No campo da educação, as escolas de arquitetura e urbanismo precisam superar sua
hidroalienação. Conhecimentos
sobre a água superficial e subterrânea nos locais em que serão
implantados bairros ou cidades, por meio de pesquisas e levantamentos técnicos,
são pré-requisitos para a elaboração dos projetos, das normas urbanísticas de
uso e ocupação do solo. É útil produzir conhecimento sobre a infiltração de
água de chuva coletada nos telhados das casas e pesquisas dos tipos de
pavimentação para permitir infiltrar a água de chuva no terreno ao invés de
deixar que ela escoe.
Para que os municípios atuem de modo responsável para com a água,
é necessário hidroalfabetizar políticos e administradores, além dos próprios
engenheiros civis, sanitaristas, arquitetos e urbanistas para que se tornem
hidroconscientes. Além disso, a hidroconsciência dos cidadãos, despertada quando
sentem na pele o drama da falta de água ou seu excesso durante as inundações é
importante para influenciar as prioridades dos governos.
Resgatar o urbanismo de sua hidroalienação e hidratar o
planejamento e a gestão urbana ajudam se prover segurança hídrica às populações
urbanas.Entre os temas prioritários para a hidroeducação de urbanistas e demais profissões estão: águas subterrâneas e uso do solo; Captação de água de chuva; Dessalinização; Reuso; Produtores de água; Cidades hidroconscientes.; Micro e macrodrenagem urbana.; Impermeabilização do solo; Sistemas e obras de infraestrutura: energia, pavimentação e saneamento ambiental (drenagem, abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos).
Os textos abaixo, publicados neste blog, podem ser úteis para a formação de urbanistas hidroconscientes:
Hidroalfabetização
Temas emergentes sobre a água no Brasil
Ecologizar a gestão das águas
Escalas da gestão das águas
Municípios, uso do solo e gestão das águas
Viver em harmonia com a água, uma lição japonesa
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