quinta-feira, 28 de maio de 2020

Um webinar ecológico


 
“ A história é como um estilinguequanto mais se estica para trás o elásticomais à frente é arremessada”.   Aloisio Magalhães

Maurício Andrés Ribeiro

Como parte das atividades que comemoram seus 50 anos, a Fundação João Pinheiro  programou seminários pela internet (webinars) ao vivo (lives)  para conversar sobre sua história.  Participei com Roberto Messias Franco de uma live sobre Meio ambiente no dia 27 de abril.
A história da política ambiental em Minas Gerais foi contada pelo Centro de Estudos Históricos e Culturais da FJP que publicou em 1998 um livro sobre o tema.
Livro publicado em 1998 pela FJP e FEAM sobre a história.
Em 1995, a FJP teve papel destacado na concepção da Lei Robin Hood que alterou os critérios para redistribuição do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias em Minas Gerais.  Convidou a Fundação Estadual do Meio Ambiente- FEAM para elaborar o critério ambiental. Resultou disso que passaram a ser concedidos incentivos para municípios que investissem em criação de unidades de conservação (agenda verde) e para municípios que tivessem licenciado estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários para resíduos ( agenda marrom), este último critério, que tirava dos sujos para dar aos limpos, foi adotado pioneiramente em MG.
Em 1975, José Israel Vargas assumiu a presidência da FJP e criou uma diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente na qual se forjou o DNA da atuação ambiental, baseado na ciência e na tecnologia.  Ignacy Sachs, o socioeconomista polonês, trouxe o conceito do Ecodesenvolvimento, inspirador para os trabalhos então realizados.
Em 1975 a FJP publicou um estudo abrangente sobre meio ambiente na RMBH.
O contexto da época era de intensa urbanização e industrialização; as poluições ambientais se avolumavam. Em 1972 acontecera a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano, o primeiro grande evento da ONU sobre o tema; o Clube de Roma publicara um livro de impacto sobre Os limites do crescimento. Em 1973 fora criado  o Pnuma- Programa das Nações Unidas sobre o Meio ambiente. No Brasil entre 1968 a 1974 vivia-se o chamado “milagre econômico”, com a construção de Itaipu e de Usina nuclear em Angra dos Reis.
Em Minas Gerais  criou-se em 1973 o  Centro de Conservação da Natureza; em 1975 houve a suspensão das atividades da fábrica Itaú, em Contagem pela prefeitura; em resposta houve a federalização da questão com o  Decreto lei n. 1403  que atribuía ao governo federal a competência exclusiva de suspender  atividade industrial. Em 1975 criou-se no Governo Federal  a Sema - Secretaria Especial do Meio Ambiente. 
Com José Israel Vargas, várias diretorias da FJP atuaram na questão do meio ambiente: a dimensão ambiental foi incluída em planos regionais para o Rio doce, o sul de Minas, o Noroeste entre outros; em planos urbanísticos municipais, com destaque para aqueles do circuito do Ouro e do circuito do Diamante; a Revista Fundação JP publicou muitos artigos sobre o tema.
A FJP foi uma incubadora de instituições na área ambiental que  floresceram no CETEC, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e no Copam, conselho de política ambiental implantado pioneiramente no Brasil; posteriormente , foi criada a FEAM.

No século XII temas emergentes surgiram com força: em 2007 tornou-se mais visível a questão do clima quando foi publicado relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC. Nesse contexto o tema da água  emergiu com intensidade, por meio de eventos críticos como secas, inundações e estresse hídrico em muitas partes do mundo e do Brasil.
Avanços na consciência e no conhecimento se impõem: hidratar as  políticas públicas e reduzir a hidroalienação; resgatar o eco de ecodesenvolvimento que se perdeu com a adoção dominante do conceito de desenvolvimento sustentável. Ecologizar tudo, a economia, a cultura, a sociedade, o pensamento, se impõe, na perspectiva da ecologia integral. A escala temporal precisa ser alargada: de anos ou décadas, o horizonte de tempo com que se trabalha com o desenvolvimento,  é necessário  expandir esse horizonte  para centenas ou milhares de anos, articulando a história humana com a história natural ( algo que Yuval Harari faz em seus livros Sapiens e Homo Deus).  É necessário expandir uma visão desenvolvimentista para uma abordagem evolucionista.Finalmente, a pandemia de 2020 torna evidente como nossa espécie é parte integrante da natureza e mostra como um microscópico vírus pode mudar em pouco tempo a vida humana. Dissolve-se a fantasia da separatividade e o equívoco de considerar que nossa espécie se descolou da natureza. Junto com o sofrimento, doenças e mortes que trouxe, a pandemia teve efeitos colaterais positivos: a despoluição do ambiente, do ar, da água; a volta dos animais a áreas de que tinham sido expulsos, a solidariedade de empresas para com os mais vulneráveis, a solidariedade entre países; a aceleração da aplicação de novas tecnologias da comunicação com escritórios em casa e videoconferências.  Quando a FJP me convidou para participar desse encontro, a ideia era que eu me deslocasse de Brasília para BH para participar de um evento presencial num auditório. Em apenas três meses isso mudou radicalmente e realizou-se uma live webinar, com pouco custo econômico e ecológico.
Transformar os efeitos colaterais positivos que foram adotados involuntariamente devido à pandemia  em práticas duradouras  é uma meta que se coloca diante de todos. Novas pandemias virão, eventos climáticos críticos se tornam mais frequentes e intensos e o  futuro demanda muito conhecimento científico e tecnológico, muita capacidade de gestão, um aprimoramento espiritual e novas atitudes de frugalidade, simplicidade voluntaria, austeridade feliz e valorização do conforto essencial.
Com a pandemia, um seminário que seria presencial tornou-se um evento virtual. A FJP se moderniza para responder ao novo tempo.
 

 

Espero que a Fundação João Pinheiro, nos próximos 50 anos, se reinvente, inove com criatividade e inteligência. E que continue a prestar bons serviços a Minas Gerais!

 

Nenhum comentário: