domingo, 21 de junho de 2020

Pandemias e animais

Maurício Andrés Ribeiro


O Covid-19 se espalhou a partir de um mercado de animais silvestres na China. Outras pandemias também aconteceram a partir de vírus que saltaram de animais para humanos. Pandemias colocam a nu a relação dos seres humanos com os animais.  Quando se destroem os habitats de animais silvestres, eles migram para as cidades e seu contato  com humanos passa a ser mais frequente e perigoso.
A COVID-19 acelerou reflexões sobre a importância da  proteção das florestas para prevenir futuras pandemias,  da biodiversidade e da redução do desmatamento para  reduzir as zoonoses, doenças transmitidas por animais. 
A pandemia ajuda a tornar mais respeitosa a relação humana com os animais, reduzindo a caça, a matança, o uso na alimentação, bem como o tráfico de animais silvestres, que traz risco  ecológico, sanitário e humanitário.
Um efeito colateral da pandemia em 2020 é o de aumentar a consciência sobre a necessidade de redesenhar o relacionamento humano com os animais  de modo mais compassivo  e solidário, deixando de considerá-los como coisas e objetos, inclusive na moda. Os animais passam a ser reconhecidos como pessoas não humanas, seres sencientes que merecem cuidado e compaixão como fez a  Nova Zelândia.
A abolição dos animais silvestres do menu dos chineses deve ser saudada, evoluindo na linha do que já fez a vizinha civilização indiana, há milênios, ao valorizar o vegetarianismo oferecendo lições importantes para banir o carnivorismo . Na civilização indiana são sacralizados como deuses: Nandi, o boi sagrado; Subramanian, a serpente, Ganesh, o elefante, Hanumam, o macaco, entre muitos outros. Tornam-se evidentes os benefícios do vegetarianismo e os custos do carnivorismo que impulsiona a devastação florestal.

Macaco no ashram de Dayananda em Rishikesh
As fábricas de animais (frangos, porcos, bovinos)  e a pecuária industrializada com animais confinados  com sistemas imunológicos deprimidos foi identificada como facilitadora de pandemias como aponta Sr David Attenborough. O vírus se espalha em frigoríficos cujas linhas de desmontagem de animais são espaços de risco.
Como outro efeito colateral  da quarentena os animais voltaram a espaços deixados vazios de ocupação humana. Golfinhos passaram a sentir saudade dos humanos e a  presenteá-los. Tartarugas e peixes voltaram a rios e baias; os pavões repovoaram Délhi; cervos descansaram debaixo de cerejeiras no Japão.
A pauta da fauna já aparecera com força nos últimos tempos nas sociedades de defesa dos animais, em conselhos de meio ambiente e nos parlamentos, cuidando de animais silvestres, termos de guarda, uso  de animais em  entretenimento. Festivais de filmes sobre animais combateram  o especismo e o antropocentrismo. O Partido  dos animais holandês  foi criado ao se constatar que outros partidos e mesmo o partido verde, não conferiam prioridade em seus programas à defesa dos animais.
A pandemia do coronavirus em 2020 acelerou a consciência sobre os custos de um relacionamento antropocentrado dos humanos com os não humanos. Jogou luz  sobre a importância  de evoluir para modos de relacionamento mais  amigáveis, mais sensíveis, nos quais os animais deixem de ser vistos apenas como coisas ou objetos e nos quais seus habitats naturais e a saúde ambiental sejam protegidas para reduzir riscos à saúde humana por futuras pandemias. 
Três modos de relacionamento dos humanos com a vida animal

 

 

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