sexta-feira, 26 de junho de 2020

A pandemia e a arquitetura das moradias

Maurício Andrés Ribeiro


Bilhões de pessoas ficaram em casa durante as quarentenas e lockdowns durante a pandemia do coronavirus.
Os espaços dentro das moradias precisaram dar lugar ao escritório de trabalho (home office). Precisaram se adaptar para receber computadores e mesas de trabalho, com isolamento acústico para prover as condições de concentração e atenção adequadas, com acesso à conexão na internet e infraestrutura elétrica para ligar os computadores e os carregadores de baterias.
Um precursor do home office: o sobrado colonial. Mariana.MG.
Os antigos sobrados nas cidades coloniais foram precursores do home office, pois tinham o comércio embaixo, com as lojas voltadas para a rua, e a residência na parte de cima. A versão moderna disso é o teletrabalho em casa.
Para os estudantes, crianças e jovens, a casa tornou-se o espaço de estudos e do ensino à distância.
A casa tornou-se, ainda,   o espaço de entretenimento, cultura e lazer, com a grande oferta de filmes, series, lives e shows em streaming que podem ser vistas a qualquer hora com baixo custo. Espaços culturais que implicam em adensamento como salas de cinema, teatros, centros culturais, museus, se esvaziaram.

Entretanto,  há bilhões de pessoas que não dispõem de casas com espaços suficientes para abrigarem essas novas funções. O adensamento e a sobrepopulação (overcrowding) em pequenos ambientes afeta a saúde individual e coletiva. Os seres humanos e os demais seres vivos animais sofrem consequências similares quando vivem em superadensamento em ambientes sem condições adequadas de higiene.  
Proxêmica: distâncias íntimas, pessoais, sociais e públicas.
O antropólogo E.T. Hall, criador da proxêmica, a ciência das distâncias, abordou as disfunções de comportamento de animais mantidos em ambientes densos. O adensamento em que são mantidos confinados animais de produção (vacas, porcos, aves),  provoca neles um estresse que baixa a sua imunidade a infecções e provoca a multiplicação de patógenos. Passa a ser necessário dar-lhes antibióticos para que não adoeçam.  Doenças do adensamento  acontecem em favelas e comunidades hiperdensas nas quais as edificações onde moram as pessoas não são ventiladas ou iluminadas adequadamente.
A necessidade de isolamento físico para evitar contaminações levou a mudanças profundas nos requisitos para a arquitetura.
A indoor pollution, a poluição em ambientes com ar condicionado, sem renovação do ar ou sem manutenção adequada, aumentam o risco de se contrair doenças respiratórias.
Higiene das habitações era uma disciplina na arquitetura que valorizava a ventilação natural e a iluminação natural, fatores que ajudam a manter o ar de boa qualidade para a respiração e a evitar doenças. Com a pandemia, revalorizou-se o acesso ao sol, com varandas e balcões iluminados; a luz do sol é valiosa  para higienizar e matar bactérias; evitar o adensamento, ter espaços para colocar os sapatos ao entrar em casa e para lavar as mãos,  tornaram-se  requisitos essenciais para proteger a saúde física. Prover  os espaços adequados  para as casas abrigarem essas novas atividades ajuda a manter a saúde mental e emocional  de seus moradores.
 

 

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