terça-feira, 21 de julho de 2020

A pandemia e as viagens para fora e para dentro

Maurício Andrés Ribeiro 

Com a pandemia, as viagens internacionais de turismo, diversão, lazer e recreação sofreram forte impacto, devido aos riscos sanitários nos cruzeiros marítimos e as dificuldades para entrada em diversos países. O vírus reduziu drasticamente o viajismo, o consumismo na forma de viagens,  e impactou o turismo. Cruzeiros, voos de baixo custo e resorts, do turismo de massa, foram paralisados.
O turismo geriátrico pelo qual multidões de idosos abonados se deslocam freneticamente pelo mundo para olhar de perto atrações e patrimônios, sofreu uma freada brusca com o coronavirus.
Milhares de pequenos empreendedores, donos de pousadas, pequenos comerciantes voltados para atender aos turistas e à população flutuante e sazonal perderam suas fontes  de renda.
Os residentes em lotais de atrações turísticas desenvolviam uma tendência à turismofobia, a aversão ao turismo.  O turismo de massa pressiona a infraestrutura das cidades turísticas e costuma matar a galinha dos ovos de ouro, a atração de que se alimenta. A pandemia reduziu os impactos ambientais negativos de grandes fluxos de pessoas acima da capacidade de suporte e de carga dos locais visitados que pressiona os recursos naturais.
O turismo de massa gerou a turismofobia nas populações residentes em locais de grande atração.
Aos consumidores de viagens e à indústria do turismo que tira seu sustento delas, o coronavirus trouxe a tarefa de encontrar maneiras de serem realizadas com menores externalidades negativas e internalizando os custos sociais e ambientais que provocam. Animais responderam à ausência de humanos, aparecendo nos ambientes dos quais fugiam quando havia muitos turistas. Será possível, necessário e desejável ecologizar o turismo depois da pandemia?
Há quem preveja que o turismo deverá se centrar em viagens domésticas e regionais e menos em viagens internacionais. A indústria da hotelaria, incluindo o AirBnB terão que se reinventar.
Lisboa propõe usar os alojamentos de AirBnB  como casas para  profissionais de serviços essenciais que vinham sendo expulsos para ceder lugar para turistas. O governo local arrendaria os alojamentos dos proprietários e os subarrendaria para os moradores.
Os deslocamentos para viagens de lazer e entretenimento depois da pandemia tendem a se reduzir drasticamente, especialmente para os idosos e grupos de risco vulneráveis ao vírus.
Os deslocamentos para conferências e eventos também se reduzem, com a proliferação de teleconferências e tele eventos a distância.
Também as viagens de negócios se reduzem com o tele comércio à distância, bem como as viagens para educação e desfrutar de cursos em universidades estrangeiras.
O turismo internacional tende a ceder lugar a viagens mais locais depois da pandemia.
Todos os usos que justificavam viagens físicas dispõem hoje de alternativas mais econômicas e ecológicas para se realizarem com conexões sociais via internet. Os rincões mais remotos do mundo passam a dispor de conexões de qualidade que viabilizam viagens virtuais.
 Uma das formas de atender à demanda por conhecer novos lugares é o tele turismo. Viagens virtuais substituem viagens presenciais. Não há o envolvimento sensorial do tato, do olfato e dos movimentos, mas há sons e imagens por meio dos quais se visitam museus, cidades, paisagens naturais. Até mesmo lugares inacessíveis presencialmente, como por exemplo outros planetas e universos, estão disponíveis em vídeos e imagens ao toque de um clique na internet.  O tele turismo leva mais longe do que o turismo presencial. A imaginação voa por sobre  as imagens.  Além disso  é mais barato e provoca menores impactos ambientais do que o turismo presencial.
Meditação e vida contemplativa levam a ricas viagens para dentro  de si em direção ao autoconhecimento.
No mundo com pandemia, cuidados constantes para reduzir riscos, novos hábitos de higiene, de distanciamento físico, de uso de máscaras, ajudam a lembrar que a vida é perigosa. Todos os dias se noticiam muitas mortes  e o cerco dela se aproxima, atingindo pessoas próximas.  A presença da morte  induz a maior introspecção, questionamentos do modo de vida anterior, opções por mudar de vida, adotar  ritmo mais lento. 
As quarentenas e o isolamento físico abriram tempos para  as viagens para dentro de si, o silêncio. Meditação e contemplação, respiração consciente e atenção ao agora ganham tempos que eram gastos com agitação e barulho. Sendo bem aproveitados, podem trazer um ganho evolutivo para cada indivíduo e para a espécie,  despertando o  amor, a solidariedade, a fraternidade, o sentido de unidade humana, uma economia minimalista do necessário, bem como uma recusa ao supérfluo.Os sonhos se tornam mais frequentes e intensos e trazem à tona o que está no subconsciente.
O freio de arrumação proporcionado pela pandemia na compulsão por viagens para fora abriu oportunidades para as viagens interiores, para a introspecção e o autoconhecimento. Elas facilitam a evolução espiritual, ética e  psicológica necessária para a espécie humana sobreviver nessa mega etapa de transição em que nos encontramos.

 

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