Maurício Andrés Ribeiro
A palavra Transdisciplinar foi usada pela primeira vez pelo educador Jean Piaget e depois por Basarab Nicolescu no seu Manifesto da Transdisciplinaridade. No Brasil, foi adotada nos anos 1980 pelo psicólogo e educador Pierre Weil que criou a Universidade Holística Internacional de Brasília- UNIPAZ.
Os especialistas – hidrólogos,
hidrogeólogos, oceanógrafos, climatologistas – têm papel crucial para
compreender a fundo os temas relacionados com a água. Entretanto essa visão
necessária não é suficiente. Para
superar a visão fragmentada acadêmica não basta somente uma visão
interdisciplinar, que mantem as disciplinas. É necessária uma visão abrangente,
transversal, que articule e integre os diversos olhares fragmentados e
setoriais. Ser transdisciplinar significa ir além das disciplinas
fragmentadas e especializadas com as
quais usualmente se classifica e se opera na educação escolar e nas profissões.
Um clínico geral vê o organismo como um todo e pode identificar os pontos que
merecem a atenção de especialistas.
Uma visão panorâmica sobre as águas
enxerga a sua presença tanto no macro como no microambiente. Ela está no
cosmos, na cauda dos cometas e nos outros corpos celestes onde se busca a
existência de vida; está presente no planeta Terra, nos corpos dos seres vivos;
está, ainda, na consciência das pessoas.
No campo cultural, ela está nos nomes de
lugares, em palavras, músicas, poesias, manifestações religiosas e sagradas.
A visão transdisciplinar não se limita à
abordagem racional, científica. O pensamento intelectual sobre a água é uma das muitas
maneiras de abordá-la. Pode ser pragmático e facilitar seu uso, mas não é o
modo mais abrangente para se relacionar com ela.
O transdisciplinar vai além da superação das disciplinas acadêmicas
formais que fazem uso da razão e se expande para o campo das emoções, dos
sentimentos e da intuição, mobilizando não apenas as ciências. A transdisciplinaridade articula os conhecimentos das ciências, das
artes, das tradições espirituais e da filosofia.
Ela
inclui toda a percepção que as artes trazem, com a música, literatura, a poesia, as artes plásticas, o
teatro, o cinema, que mobilizam emoções e sentimentos. Os artistas têm grande poder de
comunicação, de atuar sobre as emoções e mobilizar para causas hídricas e
ambientais. Os artistas que colocam suas habilidades e talentos a serviço das
águas prestam um relevante serviço ao sensibilizar a sociedade. Textos técnicos
são importantes, mas é insubstituível o poder do cinema, da linguagem não
verbal da música, da poesia, da literatura, da dança. A água está diretamente
relacionada com as emoções. A emoção move, a razão organiza. Não por acaso os
humores do corpo e os humores psíquicos têm a mesma palavra para designá-los.
A transdisciplinaridade e a visão
holística também incluem o senso do sagrado, a ressacralização da natureza e
das águas, para tratá-las com reverência e respeito e não apenas como um
recurso a ser utilizado pragmaticamente para atender a necessidades, demandas e
caprichos humanos.
Pensar sobre a água, refletir sobre a água,
estudar a água, sentir e se emocionar com a água se expressam numa abordagem
transdisciplinar.
Em 2018,
durante o 8. fórum mundial da água em Brasília criou-se o Centro Internacional
de Água e Transdisciplinaridade- CIRAT- que
defende uma visão holística e transdisciplinar sobre a água. O CIRAT atua em rede nos campos da arte e cultura, ciência e academia,
educação, produção de conhecimento e inovação. Tem projetos de agricultura
regenerativa, estrutura molecular da água, desenvolvimento territorial. Desde
então, explorou diversos caminhos originais e alcançou resultados em seus
estudos e pesquisas, articulando-se com entidades em outras partes do mundo que
compartilham o mesmo espirito de olhar a
água de um jeito novo.
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