Maurício Andrés Ribeiro
A palavra hidrologia significa o estudo da água. Ela estuda a sua ocorrência no planeta Terra, como está distribuída e se movimenta, suas propriedades físico-químicas, sua relação com o ambiente e com a vida.
A hidrologia especializada usa um dialeto, o hidrologuês, um jargão hermético e de difícil compreensão para os leigos, a quem são estranhos os conceitos e termos como curvas-chave, linhas de base, hidrograma ecológico, hidrograma unitário sintético, modelagem chuva-vazão, vazões mínimas de referência, estresse hídrico, tempo de concentração, período de retorno, volumes de espera, série temporal não-estacionária, regularização de reservatórios, vazão regularizada, rios intermitentes, alocação negociada, balanço hídrico, curvas de permanência, curvas de aversão ao risco etc. Essa hidrologia especializada e focada em questões quantitativas é útil para a gestão e a tomada de decisões para obras de infraestrutura. Os especialistas em recursos hídricos, de várias profissões e formações acadêmicas dominam aspectos específicos e práticos do conhecimento sobre a água, aplicados para fins de gestão ou de engenharia e construção de obras hídricas. Cientistas, especialistas e interessados se ocupam em estudar e gerenciar seu uso.
Entretanto, deixam em segundo plano
múltiplos aspectos qualitativos, tratados como pano de fundo sem maior
relevância.
A hidrologia ambiental fornece o conhecimento de base para os especialistas em recursos hídricos atuarem em planos, na medição de chuvas e de vazões de rios, no cálculo das águas disponíveis; na medição dos aspectos físicos, químicos e biológicos que revelam a sua qualidade. Trata-se de abordagem quantitativa que tem sua base na coleta acurada de dados sobre chuva e vazão de rios. Equipamentos tais como pluviógrafo, pluviômetro de proveta, réguas de cálculo, amostrador de sedimentos, anemômetro de solo, piranógrafo, flutuador, radiômetro, molinete, sonda Doppler, ecobatímetro, mini Cartan (para medir a velocidade do fluxo), cadernos para anotar observações de campo, compõem a caixa de ferramentas dos hidrometristas que observam os dados em campo e os transmitem para serem analisados e produzirem informações estatísticas e séries históricas que são básicas para a tomada de decisões.
A hidrologia estatística enfatiza aspectos quantitativos valiosos para a gestão. A hidrologia aplicada focaliza questões relacionadas com o uso dos recursos hídricos, tais como os planos de bacias hidrográficas, o abastecimento e a drenagem urbana, os aproveitamentos hidroelétricos, a erosão, as poluições e a qualidade. Relaciona-se com o projeto e a construção de obras de engenharia e de infraestrutura hidráulica – reservatórios, represas, aquedutos, canais, portos – e também nas práticas de gerenciamento. Nesses aspectos práticos, técnicos, gerenciais e administrativos, conhecimentos hidrológicos quantitativos embasam a tomada de decisão.
A hidrologia espacial é um campo
emergente e com grande futuro e que faz uso de satélites, de sensoriamento
remoto e observações a partir do espaço com as tecnologias mais recentes. A
hidrologia isotópica estuda os isótopos de hidrogênio e oxigênio nas moléculas
de água e a informação que eles trazem sobre a origem daquela molécula, a idade
das águas subterrâneas e diversos outros aspectos.
Os campos da glaciologia ou criologia
estudam o gelo; a hidro-meteorologia estuda sua presença na atmosfera, a
limnologia estuda as extensões de água doce, como os lagos e pântanos; a
hidrostática, a hidro cinética, a hidrodinâmica, estudam seus aspectos físicos,
a hidrografia estuda as águas correntes, a oceanografia estuda as águas
oceânicas e a hidrogeologia estuda as subterrâneas. O campo da hidro cosmologia
estuda a que existe no cosmos e nos corpos celestes, como as caudas dos
cometas.
Cada vez mais os aspectos humanos,
culturais, históricos, econômicos, tendem a se desenvolver. Devido à sua
importância política e social surgiram os campos da hidropolítica e da hidrologia social, bem como a hidrologia
urbana.
O campo da hidrologia médica trata das curas medicinais por meio da
crenoterapia nas estâncias hidrominerais, das hidroterapias com agentes
terapêuticos. A hidropatia é o tratamento de algumas doenças. Escalda pés e
compressas alternadas de água quente e fria foram práticas efetivas para alguns
males da saúde.
Tais abordagens são necessárias, porém
não são suficientes quando isoladas umas das outras e tratadas de modo
fragmentado. Dispor de competência técnica e cientifica é necessário, porém
insuficiente.
Especialistas sabem muito sobre pouco e
perdem a visão panorâmica. São um perigo se estão soltos e sem direção lúcida.
Decisões baseadas apenas em sua visão podem causar estragos e danos.
O conhecimento técnico e científico das várias hidrologias são valiosos para gerenciar os usos da água, numa perspectiva utilitária. Nessa visão ela é um objeto de uso do qual se pode dispor ao bel prazer para atender demandas.
Em geral não se questionam ou avaliam criticamente essas demandas
para saber se são prioritárias ou se seria melhor deixar de usar aquele bem
para preservar uma paisagem natural, para a contemplação, para ela existir
livremente.
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