ARTES - capítulo de Hidrosofia
A ÁGUA NA CULTURA BRASILEIRA
Entre os mitos que permeiam a relação do brasileiro com a
água destaca-se o de que seja um recurso infinito ou abundante. De mitos como
esse decorrem costumes como o do desperdício e o de dar-lhe as costas, jogando
nela o lixo e o esgoto.
A água está profundamente enraizada na cultura brasileira,
influenciando práticas cotidianas, tradições religiosas, expressões artísticas
e identidades regionais. Sendo um país abundante em águas, o Brasil reflete
essa riqueza em sua relação simbólica e prática com a água. Na cultura
brasileira, ela é mais do que um recurso físico; é um símbolo de vida,
espiritualidade e identidade. Ela molda tradições, inspira expressões
artísticas e está no cotidiano de milhões de brasileiros.
A água está presente na
música e literatura, nas tradições religiosas e espirituais, nas festas
populares, nas artes visuais e no cinema, em lendas e folclore, expressões
populares e provérbios, na arquitetura e no urbanismo, nas lutas sociais e
ambientais.
Os povos indígenas,
na exuberância tropical, com seus rios caudalosos, inventaram palavras para
falarem dela. A água moldou tradições religiosas, festas populares e mitologias
brasileiras. Na cultura popular há crenças de que nela vivem seres
sobrenaturais, como o caboclo d’água, a iara ou mãe d’água, que recebe
oferendas e, em troca, dá pesca abundante e o Boto-cor-de-rosa, que se transforma em homem para seduzir mulheres.
Ela batizou muitos estados e municípios brasileiros com nomes de olho
d’água, rio, riacho, ribeirão, igarapé ou arroio, foz, barra, lagoa, brejo,
vargem e várzea, mangue e praia, cachoeira, salto ou queda, cacimba, poço e
ilha: Arroio dos Patos, Barra do Piraí,
Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, Brejo da Madre de Deus, Foz do Iguaçu,
Praia Grande, São Gabriel da Cachoeira, Rio de Janeiro, Belágua, Hidrolândia,
Pingo D’Água, Sem-Peixe, Riversul...
Cidades antigas preservam aquedutos e chafarizes como patrimônio urbanístico. Cidades valorizam suas praças e parques com fontes luminosas, espelhos d`água, repuxos.
Repuxos na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, elementos
estéticos e de amenização do clima.
Lagos e lagoas urbanas valorizam o espaço, refrescam e dão
conforto ao ambiente construído.
O mar e os rios influenciaram a culinária, a música e o modo
de vida das comunidades litorâneas e ribeirinhas.
Nas regiões amazônicas, a vida das comunidades ribeirinhas é
profundamente conectada aos rios, que são fonte de transporte, alimento e inspiração
cultural. Os rios amazônicos, como o Amazonas e o Tapajós, são elementos
centrais da vida cultural, espiritual e econômica da região. As mudanças
climáticas e a seca nos rios amazônicos afetam profundamente o cotidiano dessas
comunidades.
No semiárido nordestino, a escassez de água moldou tradições
como os versos de cordel e celebrações em agradecimento às chuvas.
No extenso litoral brasileiro, as praias são símbolos
culturais e pontos de celebração e lazer, atraindo turismo, esportes como o
surf e as festas de Réveillon.
ÁGUA E ARTES
Antigamente as artes compreendiam basicamente a arquitetura,
a escultura, a pintura, a música, a literatura e a dança. O cinema foi
classificado como a sétima arte.
No século XX houve uma multiplicidade de novas formas de
expressão dentro das artes visuais (entre elas o desenho, a serigrafia, a
gravura, a tapeçaria, as histórias em quadrinhos). As artes visuais incluíram a
fotografia, os jogos eletrônicos, a arte digital na web e as artes gráficas
computadorizadas. O campo das artes espaciais engloba além da arquitetura o
design, o mobiliário, a decoração, os arranjos florais, o paisagismo, a
jardinagem, o urbanismo, a restauração de objetos, edifícios e paisagens.
As artes cênicas se
desdobraram no teatro, na mímica, no circo, nos espetáculos populares de som e
luz, nos happenings, na multiarte, nos shows, peças, nas artes mágicas. Na relação com a cultura destaca-se o
artesanato, a cestaria, a cerâmica, a joalheria, a culinária, a moda e a
publicidade. Os artistas de todos esses campos têm
um papel relevante na sua expressão sobre as águas.
As artes expandem a percepção por meio da sensibilidade
estética, da criatividade, da imaginação. A arte é um caminho poderoso que toca diretamente as
emoções e os sentimentos. Ela vai além da razão e do intelecto. A emoção move e
a razão organiza. Construir uma boa relação com as águas precisa da
razão e dos estudos técnicos; também necessita da sensibilização e comunicação
mobilizadas pelas artes e pelas emoções.
As artes, com seu poder de
despertar as emoções, são meios poderosos para promover a hidro consciência e
os artistas cumprem um papel relevante na sensibilização para a água. As
artes passam mensagens sobre a importância de conhecer bem esse elemento
essencial que precisará ser cada vez mais bem gerenciado e cuidado, para que
não falte a todos aqueles que dela precisam em suas vidas. A água é um tema presente em praticamente todas as formas
de expressão artística. Sua importância cultural e simbólica permite que seja
explorada de maneiras criativas e significativas em diferentes mídias. A água,
com seu poder visual, seus sons, sabores que despertam os sentidos, e seu poder
emocional, conecta diferentes formas de arte, funcionando como um elo entre o
mundo físico e simbólico.
A beleza natural é uma qualidade essencial
para agradar aos sentidos da visão, da audição, do olfato, do paladar, do tato.
Um rio sujo, poluído ou malcheiroso desperta nojo, aversão e repulsa aos
sentidos. Um rio limpo, onde se pode nadar e pescar, desperta atração. A feiura
é desagradável e pode ser sinal de morte. Um belo ambiente contribui para a boa
qualidade de vida. Pode ser motivo para contemplação e para despertar paz e
tranquilidade.
Ilustração de Maria Helena Andrés para o livro A água fala
Os artistas se
expressam em relação à água retratando suas belezas e maravilhas, usando-a como
material de suas obras, denunciando a degradação hídrica e restaurando
ambientes hídricos degradados, sejam paisagens, objetos ou edificações.
A arte sensibiliza e empodera, convidando as pessoas a
refletirem e agirem em prol da preservação das águas. Ela conecta o público ao
tema de forma única, promovendo uma relação profunda e consciente com essa
riqueza natural.
As artes desempenham um papel essencial na conscientização
sobre as águas devido à sua capacidade única de comunicar de maneira emotiva e
universal. Elas conseguem capturar a beleza e a fragilidade das águas de um
modo que transcende as barreiras linguísticas e culturais. Por meio de
pinturas, fotografias, esculturas, músicas ou filmes, as artes despertam emoções
que podem motivar as pessoas a se conectarem profundamente com o tema.
Obras que retratam a degradação ambiental, como rios
poluídos ou oceanos em risco, chamam a atenção para questões urgentes.
Fotógrafos como Sebastião Salgado e Araquém Alcântara, por exemplo, mostram a
relação entre a humanidade e as águas, incentivando a preservação.
Muitas
culturas veem a água como símbolo de vida, purificação e renovação. A arte pode
reforçar essa visão, ajudando a destacar o valor cultural e espiritual das
águas.
A arte
pode funcionar como uma ferramenta educacional poderosa, simplificando
conceitos complexos sobre conservação da água e sustentabilidade. Exposições,
filmes e intervenções urbanas engajam comunidades e despertam debates sobre o
uso responsável das águas.
Movimentos
artísticos frequentemente lideram campanhas de defesa ambiental, como
instalações públicas que alertam sobre a escassez de água ou os impactos da
poluição. Bené Fonteles congregou forças com o Movimento de Artistas pela
Natureza. A arte ajuda a criar um senso de urgência e mobiliza ações coletivas
em prol da proteção das águas.
Ao
interpretar a água de formas inovadoras, a arte inspira novas maneiras de
pensar sobre sua conservação e gestão sustentável. Projetos colaborativos entre
artistas, cientistas e comunidades oferecem perspectivas interdisciplinares
para os desafios hídricos. Uma instalação como Ice Watch, do artista Olafur Eliasson, que utilizou blocos de gelo
retirados da Groenlândia para alertar sobre o derretimento polar, é um exemplo
de como a arte pode transformar dados científicos em experiências emocionais.
MÚSICA
A água é tema recorrente na música brasileira, representando
a conexão com a natureza, sentimentos ou problemas ambientais. O mar, rios e
chuvas são temas recorrentes no samba, bossa nova e MPB.
Várias músicas se referem à água, a começar pelo Hino
Nacional Brasileiro se inicia lembrando as margens plácidas de um rio que os
índios chamavam de Ipiranga.
Na Aquarela do Brasil, Ary Barroso canta “as fontes
murmurantes, onde eu mato a minha sede, “e onde a lua vem brincar.”
Ela está nas cantigas de crianças: “...fui na fonte do
Itororó beber água e não achei...”
Nos carnavais ela foi cantada em muitas músicas: “Você pensa
que cachaça é água? Cachaça não é água, não. Cachaça vem do alambique, e água
vem do ribeirão...”
“As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver
sobrar...”.
“A água lava, lava, lava tudo, a água só não lava a língua
dessa gente!”
“Alá, meu bom Alá! Mande água pra Ioiô; Mande água pra Iaiá;
Alá, meu bom Alá! Alá – la - la – ô, mas que calor!”.
Luiz Gonzaga cantou na Asa Branca: “Que braseiro! Que
fornalha! Nem um pé de plantação! Por falta d’água, perdi meu gado morreu de
sede meu alazão!” Cachoeira é uma canção de Luiz Gonzaga, que homenageia a
beleza das cachoeiras nordestinas.
Gilberto Gil compôs: “Dá-me um copo d’água, eu tenho sede e
essa sede pode me matar.” E “É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio
de ar.”
Noel Rosa cantou: “o orvalho vem caindo, vai molhar o meu
chapéu...”
JK gostava de serenatas:- “Como pode um peixe vivo viver
fora d’água fria? “
Tom Jobim cantou as "Águas de Março” que celebra o ciclo da vida;
Guilherme Arantes, o planeta água.
“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria” nos lembra do papel da
mulher.
Ela está presente como
tema de muitas outras músicas e manifestações artísticas.[1]
Outras músicas são exemplos de como compositores brasileiros
usam a água para criar narrativas ricas e emocionalmente poderosas: "O Mar Serenou" (Clara Nunes),
“Sobradinho" (Sá e Guarabyra); "Rio" (Djavan); “Água de
Beber" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes); "Do Leme ao Pontal"
(Tim Maia); "Mar e Lua" (Caetano Veloso).
O grupo instrumental UAKTI gravou a música do compositor Phillip Glass Aguas da amazonia
Esse grupo tocou em vários instrumentos nos quais se tirava o som das
águas. Na natureza o som das águas é
proporcionado pelo marulho das ondas do mar, pelos pingos das cotas de chuva,
pelo estalar do gelo, pelo borbulhar quando ela é fervida, por espetáculos de
luz e som, pelo som dos trovões nas tempestades. Na música ambiental, sons
de água corrente ou ondas são usados para criar atmosferas relaxantes ou
meditativas. Músicas com o tema da água podem criar uma atmosfera envolvente e
complementar a experiência educativa em museus e espaços culturais e
educacionais. Essas músicas oferecem uma variedade de estilos e emoções,
ajudando a criar uma trilha sonora que pode enriquecer a experiência de visitar
esses espaços.
Obras como La
Mer de Claude Debussy ou An der
schönen blauen Donau de Johann Strauss evocam os movimentos e as emoções
associados à água. As músicas capturam diferentes aspectos do tema, a exemplo
de "La Mer" – Charles Trenet:
Um clássico francês que celebra a beleza do mar, evocando imagens de ondas e
paisagens costeiras. "Bridge Over
Troubled Water" – Simon & Garfunkel: Uma canção icônica que,
embora metafórica, usa a imagem da água para transmitir conforto e apoio. "Yellow Submarine" – The Beatles:
Uma música alegre e acessível que associa a água a uma aventura submarina,
especialmente popular entre os jovens.
"Rain" – The Beatles: Uma faixa que reflete sobre a chuva, tanto
como um fenômeno natural quanto como uma metáfora para mudanças emocionais. A Pequena Sereia (Disney): Uma música
divertida e otimista do filme "A Pequena Sereia", que pode atrair
crianças e famílias ao explorar o mundo subaquático."Beyond the Sea" – Bobby Darin, "Under the Sea" – "The
River" – Bruce Springsteen: "Oceania"
– Björk: "Sittin' on the Dock
of the Bay" – Otis Redding: "Have
You Ever Seen the Rain?" – Creedence Clearwater Revival: "Down to the River to Pray" –
Alison Krauss: "Rivers of
Babylon" – Boney M.: "Blue
Bayou" – Roy Orbison: "River"
– Joni Mitchell:
Várias músicas abordam o tema das quedas d'água, exaltando sua
beleza, força e sua natureza impactante. Entre elas destacam-se “Cascata"
(Waterfall) - Jimi Hendrix, uma música instrumental que evoca a serenidade e a
energia de uma cachoeira através da melodia da guitarra; "Waterfalls"
do grupo TLC aborda questões sociais e fala sobre superar desafios, usando a
metáfora de uma queda d'água para transmitir lições sobre a vida;
"Waterfall" de Vangelis incorpora sons de água e elementos naturais
para criar uma atmosfera de tranquilidade e calma.[2]
LITERATURA, PROSA E
POESIA
A água está presente nas ideias e palavras, na língua e na
comunicação, nos sentimentos e ações humanas. É usada em muitas palavras e ditados,
provérbios e expressões populares da língua portuguesa: acalmar é pôr água na
fervura e desanimar é receber uma ducha de água fria; água mole em pedra dura
tanto bate até que fura, diz um ditado popular que reconhece as qualidades de
paciência e da perseverança; ir por água abaixo ou fazer água é afundar,
fracassar; urinar é tirar a água do joelho; cachaça é
água-que-passarinho-não-bebe; ser bom até debaixo d’água significa ser muito
bom; afligir-se é afogar-se em pouca água; fazer um esforço inútil é carregar
água no cesto ou enfiar água no espeto; dar água na boca é despertar o apetite
e mudar muito é mudar como da água para o vinho; aguado é diluído, ser
água-morna é ser pacato. gato escaldado tem medo de
água fria; ser um peixe fora d’água é estar fora de seu ambiente; urinar é
tirar a água do joelho. Quando uma situação não se resolve, diz-se que muita
água ainda vai passar debaixo da ponte. Águas passadas não movem moinho. Fazer
água ou ir por água abaixo é afundar, fracassar. Chover canivetes ou cântaros é
chover muito. Chover no molhado é insistir no mesmo tema. Quem está na chuva, é
para se molhar! Fazer uma tempestade em copo d’água é reagir com exagero. A
vaca foi pro brejo quando a situação não tem mais jeito. Enxugar gelo é
trabalhar sem resultados. Dar nó em pingo d’água é fazer o impossível. Ser
transparente é ser claro como água. Ser bom até debaixo d’água é ser muito bom.
Dar água na boca é despertar o apetite; mudar muito é mudar como da água para o
vinho. Cachaça é água-que-passarinho-não-bebe. Alguém que bebeu muito está na
maior água. - Por que cargas d’água
isso foi feito? Colocar as barbas de
molho é preparar-se para o pior. Querer
sombra e água fresca é sonhar ter sossego; Água mole em pedra dura,
tanto bate até que fura.
Há expressões herdadas de um tempo em que a regra era ter águas
límpidas: ser de primeira água é ser excelente, bom como água; ser transparente
é ser claro ou cristalino como água.
Na mitologia e no
folclore, histórias ligadas a rios, oceanos ou seres aquáticos, como sereias,
são fontes recorrentes de inspiração.
Sua capacidade de trazer vida e alegria é reconhecida na
literatura: “Perto de muita água tudo é feliz”, escreveu Guimarães Rosa. O
livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, retrata um ambiente em que a falta de
água se associa à morte.
A poesia de Manuel Bandeira tratou da água:
“E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada’.
João Cabral de Melo Neto usou a água como metáfora para a
existência humana e para descrever paisagens brasileiras. Ele indagou, em Morte
e vida Severina: “Seu José, mestre carpina, que habita este lamaçal, sabes me dizer
se o rio a esta altura dá vau? Sabe me dizer se é funda
esta água grossa e carnal?”
Na Pátria Minha, Vinicius de Moraes
escreveu: “Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água que elaboram e
liquefazem a minha mágoa em longas lágrimas amargas.”
"Cachoeira" de Castro Alves é um poema que
descreve a majestade e a beleza de uma cachoeira, usando metáforas e imagens
vívidas.
O poeta Fernando Pessoa evoca a água para explorar sentimentos de nostalgia,
mistério e transcendência e escreveu que:
“O Tejo
desce de Espanha
e o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
e para onde ele vai
e donde ele vem.”
Escreveu Camões:
“As águas que em vão
Me fazem chorar,
Se elas são do mar
Estas d’amar são.”
—
“Correm
turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florescidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.”
Cachoeiras são mostradas em poesias destacando-se entre elas "Cataract" de Emily Dickinson e "La Catarata" do nicaraguense Rubén Darío. Escritores como Hermann Hesse (Narciso e Goldmund) e Gabriel García Márquez (Cem Anos de Solidão) usam a água para simbolizar transformação, memória e fluxo da vida.
De nossa parte, escrevemos o livro A água fala, [3] voltado para o público infanto-juvenil, uma
faixa etária da população para a qual será valioso ter uma visão holística e
integral sobre a água.
O livro A água
fala alia a linguagem poética e o desenho e usa a primeira pessoa do singular,
numa narrativa da própria água. O livro descreve uma viagem pelo seu ciclo
completo no ambiente, seu movimento, sua presença nos corpos vivos, na cultura
e as questões relacionadas com o seu uso.
ARTES
PLÁSTICAS
Muitos pintores no Brasil e no mundo pintaram as águas em
rios, lagos, cachoeiras, nas nuvens, no oceano. Esses artistas exploraram as
qualidades visuais e simbólicas da água, desde o reflexo e o movimento até a
conexão espiritual e ecológica.
Leonardo da Vinci desenhou os vórtices e o movimento das
águas. Claude Monet (França) pintou
obras icônicas como a série Nenúfares
e os reflexos das águas em Giverny. Essas obras capturam a luz e os
efeitos da água com grande maestria. Paul Cézanne
(França) incluiu rios e corpos d'água em sua série de paisagens. Hokusai
(Japão) famoso por sua obra A Grande Onda
de Kanagawa, explora o poder e a beleza do oceano. Vincent van Gogh
(Holanda) pintou rios e margens aquáticas, como em O Rio Sena em Asnières. Georgia
O'Keeffe (EUA) explorou paisagens aquáticas em suas obras abstratas e modernas,
com interpretações únicas de lagos e rios.
A grande onda de Kanagawa é o famoso
quadro do artista japonês Hokusai.
Pintar a água em suas diversas formas é uma temática central na história da arte, explorada por inúmeros artistas no Brasil, tais como os participantes do movimento de artistas pela natureza, impulsionado por Bené Fonteles.
Portinari realizou um painel de azulejos na Igreja de São
Francisco de Assis na Pampulha em Belo Horizonte.
Cândido Portinari retratou cenas religiosas da relação
humana com o meio ambiente, incluindo rios e outras paisagens aquáticas. Eliseu
Visconti pintou paisagens que muitas vezes incluíam rios e reflexos na água.
Tomie Ohtake trabalhou com abstrações que evocam a fluidez e o movimento das
águas. Maria Helena Andrés explorou paisagens e temas ligados à ecologia
integral, frequentemente incluindo elementos naturais, como rios e mares.
Em 1944, Maria
Helena Andrés pintou o seu primeiro barco na enseada de Botafogo, no Rio de
Janeiro.
Em 2023, num painel em azulejos para a Igreja de N.S. Aparecida em Diamantina ela retratou o rio Paraíba do Sul e o milagre dos pescadores que de lá retiraram a imagem da santa.
Ao pintar as paisagens celestiais ao seu redor, Maria Helena mostra as nuvens, a parcela da atmosfera que contém água, nos chamados rios voadores. As paisagens aéreas das nuvens no céu, com suas formas fluidas e dinâmicas são uma dimensão da realidade que cada vez mais merece atenção e observação pelos cientistas, no mundo que se encontra às voltas com as mudanças climáticas.
A arte de rua e os grafittis trazem para o ambiente
urbano grandes painéis com temas da água, como este do artista ACME no Rio de
Janeiro.
Ilustrações e caricaturas usam a água para
criar humor ou crítica social, como cenas de enchentes ou naufrágios. Muitas
vezes utilizam a água como elemento cômico ou simbólico, representando desafios
humanos ou desastres naturais.
Com humor, os
cartuns e charges revelam ângulos inusitados para abordar a crise hídrica.
Em 2023, depois de muitas décadas sem focalizar o tema[4],
a ONU promoveu em Nova Iorque uma
conferência mundial sobre a água. Entre as centenas de eventos paralelos
aprovados, uma live sobre Educação, história e arte Live Water and Arts - Side Event of UN 2023 Water Conference - Água e Artes - evento paralelo
(youtube.com , apresentou a obra de Petrônio Bax, João Diniz, Isabela Prado, Thereza Portes,
Fabrício Fernandino, Ivana Andrés, Luciano Luppi e outros.
Folder de divulgação de uma live sobre Educação, história
e arte apresentada na Conferência da ONU sobre água em 2023
FOTOGRAFIA
A
fotografia de águas, incluindo rios, oceanos, mares, lagos, paisagens,
cachoeiras, reflexos e outros corpos d'água, é um tema explorado por muitos
fotógrafos. Por meio da água, os ensaios fotográficos exploram temas como
vulnerabilidade, fluidez e força.
Entre
os fotógrafos internacionais destaca-se Ansel Adams (EUA), mestre da fotografia
em preto e branco, capturou cenas icônicas de rios, lagos e cachoeiras nos
parques nacionais dos Estados Unidos. Yann Arthus-Bertrand (França) Famoso por
fotografias aéreas de rios, oceanos e lagos em diferentes partes do mundo,
frequentemente abordando questões ambientais.
Sebastião
Salgado, conhecido por seus projetos, como Gênesis,
fotografou rios, nuvens, gelo e oceanos em áreas remotas do mundo. Araquém
Alcântara documentou a natureza brasileira, especialmente da Amazônia, com
imagens impactantes de rios e cachoeiras. Claudia Andujar fotografou a região
amazônica e o rio Negro, com foco nas comunidades indígenas e na relação delas
com a água.
As
nuvens transportam a água na atmosfera e propiciam as chuvas fertilizadoras.
A presença da água nas nuvens e na atmosfera se movimenta
e transforma e por vezes lembra figuras e símbolos que logo em seguida
desaparecem com o vento.
No ano 2000, Maria Helena Andrés capturou em foto o momento fugaz em que a nuvem se revelou como uma Asa de Anjo.
Respondendo aos ventos e aos movimentos do ar, a superfície do Lago Paranoá em Brasília por vezes se mostra ondulada, e por vezes permanece lisa como um espelho.
CINEMA E
ANIMAÇÃO
A linguagem da sétima arte, o cinema, é um poderoso meio
para expandir a hidro consciência. A água tem sido um tema central em muitos
filmes, representando mistério, mudanças climáticas, aventura, terror e a força
de conexão e espiritualidade: Dançando e cantando na chuva são temas de
filmes. Alguns exemplos conhecidos são
"Avatar: O Caminho da Água" (Avatar:
The Way of Water, 2022); "O Dia
Depois de Amanhã" (The Day After
Tomorrow, 2004); Filmes como Tubarão
(1975), A Forma da Água (2017) e O Mar Não Está Para Peixe (2006) mostram
como a água pode ser elemento central de tensão, romance ou humor. "Água
Negra" (Dark Water, 2005);
"Moana: Um Mar de Aventuras" (Moana,
2016); o drama indiano "Água" (Water,
2005); A Marcha dos
Pinguins" (La Marche de l'Empereur, 2005): Este documentário acompanha a
jornada dos pinguins imperadores na Antártida e destaca o papel do gelo e da
água em seu ciclo de vida. Estúdios como a Pixar e
a Ghibli criam representações da água (como em Procurando Nemo e Ponyo),
muitas vezes como um personagem vivo.
Filmes
educativos podem ser uma ferramenta poderosa para ensinar sobre a importância
da água, a conservação ambiental e a vida aquática. Esses
filmes educam e inspiram e promovem discussões importantes sobre o papel
crucial da água no planeta e na vida humana, a exemplo de "Planet Earth II
– Águas Selvagens" (2016): "A Vida Secreta dos Oceanos" (The
Blue Planet, 2001): "Before the Flood" (2016):."Além desses,
destacam-se “Flow: For Love of Water" (2008): "Racing
Extinction" (2015): "Chasing Ice" (2012): "Oceanos"
(Oceans, 2009): "Tapped" (2009): "Watermark" (2013):
Festivais de cinema focados em questões
relacionadas à água, incluindo conservação, gestão e impacto ambiental acontecem em várias partes, destacando-se o Blue
Water Film Festival.
Algumas
séries de TV trazem reflexões sobre o uso sustentável da água e a importância
de preservá-la, como Nosso Planeta" (Our Planet)e "Under the
Dome" Juntos Pela Água
várias séries estão acessíveis no link Aguana Caixa a exemplo
de "Explicando": "Os Parques Nacionais Mais Fascinantes do
Mundo":"Curta Essa com Zac Efron."
O cinema de animação tem um grande potencial
comunicativo, a exemplo desse filme animado sobre o ciclo
da água disponível no Youtube.
JOGOS ELETRÔNICOS E ARTE
DIGITAL
Fonte: Captura de tela do vídeo
“No Man’s Sky Underwater Driving” – Boid Gaming, Youtube, 2017.
Os jogos eletrônicos, a arte digital, a arte na web, a arte
gerada pela Inteligência Artificial são campos em desenvolvimento acelerado nos
quais a cada dia surgem novidades que expandem o campo de abrangência das
artes. Os jogos eletrônicos, além de serem um setor com importância crescente
na economia, são espaços de criatividade artística.
Eles criam livremente e usam títulos chamativos e
imaginativos. A própria palavra Hidrosofia foi utilizada pioneiramente num
desses jogos. Uma pesquisa no Google ou no ChatGPT ou outra plataforma de inteligência
artificial revela uma multiplicidade de jogos que utilizam a água como elemento
central, seja como parte da narrativa ou ambiente e exploram a água de maneiras
únicas, como cenário, desafio, ou parte integral das mecânicas do jogo, a
exemplo de Abzû, Wind Waker; Aquaria; Hydrophobia, Ecco the Dolphin, Raft. A
água é usada em diversos contextos, desde desafios de navegação em jogos como
The Legend of Zelda até representações hiper-realistas em jogos como
Subnautica. Esses jogos combinam
gráficos atraentes, mecânicas interessantes e uma forte presença de cenários
aquáticos, atraindo jovens que apreciam temas de exploração e aventura.
Water drop 1-Wikipedia
Algumas obras de arte digital na internet exploram o tema da
água, refletindo sobre sua beleza, importância e as questões ambientais
associadas. Essas obras exploram a água de diversas maneiras, seja como um
elemento natural essencial, uma força poderosa da natureza, ou um símbolo das
questões ambientais que enfrentamos, como a poluição e a preservação dos
oceanos. Muitas dessas obras estão disponíveis online ou em instalações
virtuais, proporcionando uma forma interativa de experiência do mundo digital
que reflete sobre a água: "Aquatic"
por Refik Anadol, artista digital turco. Anadol é conhecido por usar
dados e inteligência artificial para criar representações visuais dinâmicas de
fluxos de água e líquidos. "Waterfall" de
Ryoji Ikeda, artista japonês de música e arte digital, usa elementos
digitais para representar quedas d'água, criando uma visualização complexa dos
fluxos da água. "Ocean 5" por David McLeod,
artista digital australiano, cria imagens tridimensionais que simulam fluidos e
líquidos, explorando o movimento da água de maneiras surreais. Além dessas
obras destacam-se "Fluidity" de Zach
Lieberman,"Liquid Light" de LIA, "Sea Change" de Jonathan McCabe, "Waterworld" por Daniel Lismore, "The Future of Water" por TeamLab; "Ocean Memories" de Julie S. Lalande.
"Waterfall" (Cachoeira) de Bill Viola; "Water Music"
(Música da Água) - Jennifer Steinkamp
Programas como Blender e Unreal Engine criam simulações da
água para cenários imersivos.
Essas obras representam apenas uma pequena amostra do vasto
conjunto de trabalhos artísticos que fazem uso da água e da luz como elementos
principais. Artistas têm explorado esses elementos, buscando transmitir
sensações, emoções e reflexões sobre a natureza, a percepção e a condição
humana.
[1] Por exemplo, de Ayla Schafer e Murray Kyle, Honour
the water https://open.spotify.com/intl-pt/track/3bUuFdLWwtaD1v5mhszGji?si=lfEhrt9LQpG63odzOXtDSA&nd=1&dlsi=506517297fc24811 Acesso em 28-10-2024
[2] Essa e outras listagens de artistas e obras
neste livro foram extraídas e adaptadas a partir de uma interação com o
ChatGPT, em novembro de 2024.
[3] Este é o título de um livro eletrônico publicado em 2020 na Amazon, https://www.amazon.com.br/Maur%C3%ADcio-Aparecida-Maria-Helena-Andr%C3%A9s-ebook/dp/B0864PKN3B
[4] Em 1977 realizou-se em Mar del Plata, na Argentina, a
I Conferência da ONU sobre águas, que abordou temas que não haviam sido
tratados na Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente, realizada em 1972.
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