Na sociedade utilitarista, a água é valorizada por suas possibilidades mercadológicas e para exploração comercial. Cientificidade e tecnicismo predominam. Adota-se uma abordagem pragmática e a água é percebida como um recurso a usar. A visão contemplativa é menosprezada no contexto do utilitarismo. Essa visão dominante difere do passado, quando ela era considerada sagrada. Ela tinha um conteúdo simbólico e havia encantamento em sua contemplação. Era importante cuidar dela e protegê-la diante da voracidade do uso e do consumo. Poetas, artistas e místicos preservam essa maneira de se relacionar com a água.
Realçar
sua presença no cosmos ajuda a resgatar postura contemplativa, protetora em
relação à agua. A ecologia cósmica ou universal estuda as
inter-relações dos seres vivos entre si e com o meio ambiente cósmico. São
conhecidas as influências dos campos gravitacionais da lua e do sol sobre os
líquidos na terra. As marés, a seiva no interior das árvores, os ciclos menstruais
nas mulheres são influenciados pela atração gravitacional dos corpos celestes. A
água viaja pelo espaço nas caudas dos cometas e é aspergida sobre os corpos
celestes que passam por suas orbitas. A panspermia os vê como espécies de
espermatozoides cósmicos que fecundam os corpos celestes (óvulos) em seu caminho
e ali criam as condições para florescer a vida. O cinturão de asteroides
situado entre Marte e Júpiter e o cinturão de Kuiper nos confins do sistema
solar são possíveis áreas de origem de agua para a terra. Mas toda a agua
existente na terra é apenas uma gota que pingou do cosmos e a Terra é um oásis
no sistema solar, no qual se encontram agua e condições para a vida. A escala
cósmica do universo, com suas dimensões extraordinárias, induz a uma visão
espiritual.
Sua
presença no corpo dos seres vivos é realçada pelo monge beneditino
Marcelo Barros ao lembrar que “Somos
parte integrante do ciclo global da água. Através do sangue, do líquido
amniótico e de todos os fluidos do corpo, a água nos liga à Terra e ao Universo”.
No corpo humano há perda
diária de água em condições normais:
• Respiração
(durante a expiração) 0,4 litro
• Urina 1,2 litro
• Transpiração 0,6 litro
• Evacuação 0,1 a 0,3 lt
• TOTAL- 2,5 litros
Reposição
por dia:
• Beber
água 1,5 litro
• Ingerir
alimentos 1,0 litro
Do cosmos exterior ao
universo interior do corpo, da água depende a vida e a saúde. No corpo de um recém
nascido a proporção de água é maior do
que num idoso em vias de fazer sua passagem e que precisa hidratar-se
constantemente.
A água foi sagrada em muitas civilizações e tradições, como origem, veículo e fonte de vida. Ela é símbolo de fertilidade e fecundidade. Tradições religiosas reconhecem seus poderes purificadores e sagrados. O dicionário de símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant afirma que “A noção de águas primordiais, de oceano das origens, é quase universal.” Na tradição cristã o sopro e o espírito de Deus, no Gênesis, pairava sobre as águas, que está nas narrações sobre o dilúvio.
No
batismo cristão a água purifica. Na Bíblia,
os poços no deserto e as fontes que matam a sede são lugares de alegria e
encantamento. “Junto das fontes e dos
poços acontecem os encontros essenciais. Como lugares sagrados, os pontos de
água têm papel essencial: perto deles nasce o amor e os casamentos principiam.”
(Dicionário dos Símbolos).
Da
tradição indígena brasileira, Marcos Terena diz que, os povos indígenas, do
nascimento à morte, se sentem, vivenciam e compreendem como partes da teia da
vida - homem, animais, ecossistema, águas. “Os povos indígenas sempre soubemos
o valor da água para beber, limpar a pele, higienizar. Sempre celebramos a
chuva. Nunca ofendemos ao Grande Criador, alterando a velocidade, o volume ou a
forma dos rios em nome do desenvolvimento e do progresso.”
Na
tradição hindu há rios sagrados, como o Ganges. A água é matéria prima: ‘tudo
era água’. Bramanda, o ovo do mu
ndo, é chocado à superfície das águas.
ndo, é chocado à superfície das águas.
Na
tradição muçulmana, no Alcorão, a água-benta que cai do céu é um dos signos
divinos. A prece ritual não pode ser cumprida a não ser que aquele que ora se
coloque em estado de pureza por meio da purificação pela água.
Na
cultura romana, Afrodite nasceu da espuma do mar e Netuno é o deus romano dos oceanos.
Na
Tradição Chinesa a água é instrumento da purificação
ritual. “A natureza da água leva à pureza” (Wan-tse). “A água é o emblema da
suprema virtude.” (Lao-tse, no Tao te Ching). “A água é o símbolo da sabedoria taoísta,
porque não tem obstáculos.”
A água, oposta ao fogo -yang, é yin, feminina.
A água, oposta ao fogo -yang, é yin, feminina.
Na
Tradição
Judaica, a água sensível é mãe e matriz.
Fonte de todas as coisas, ela simboliza
o transcendente.
Um comentário:
Excelente texto!
Postar um comentário