A cosmovisão indiana compreende o ser humano integral como composto
por corpo, mente, emoções, alma e espírito e não apenas como um homo sapiens ou
um homo economicus.
A cosmovisão indiana sacraliza bichos, plantas, rios, numa
perspectiva politeísta bem próxima da natureza e não reduz o mundo a um
conjunto de recursos naturais a serem transformados, consumidos e descartados.
A cosmovisão indiana inclui várias encarnações e várias vidas
sucessivas, karmas de vidas passadas, ações que provocam reações a partir da
lei do karma.
A cosmovisão indiana concebe as varias eras ou yugas, da era
do ouro à era do ferro, num conceito cíclico do tempo muito vasto. um desses
ciclos corresponde ao que a ciência concebe como o do big bang até os nossos
dias.
A percepção e as atitudes culturais humanas em
relação aos animais e à natureza variam ao longo do tempo. Algumas civilizações tem uma perspectiva
antropocêntrica e outras têm uma cosmovisão bio ou ecocêntrica. Para algumas,
os animais são coisas e objetos, mercadorias, propriedades dos humanos; para
outras, eles são pessoas, para outras ainda, como na tradição hinduísta, bois,
macacos, cobras, elefantes e muitos outros são divindades. Rios também são sacralizados, a exemplo do
Ganges.
A Índia inventou e concebeu conceitos, tais como o da não-violência,
o do Yoga e as práticas psicológicas da meditação, valiosas para a
autotransformação e a auto superação. Atuou como guardiã de qualidades humanas
tais como a resiliência, a tolerância para com diferenças, uma cosmovisão que
ressalta a unidade humana, a paciência, a inteligência espiritual. A cosmovisão
indiana propõe que cada um de nós nessa vida tem seu dharma, sua missão ou tarefa a cumprir.
Trata-se de uma sociedade e cultura que tem
uma cosmovisão holística e integral na qual grandes sábios e pensadores
souberam compreender de modo abrangente o mundo.
Sri Aurobindo é um
dos mestres que fez uma ponte entre o pensamento ocidental e a cosmovisão
indiana. Ele afirma que “Sabemos que há
uma evolução, mas não o que a evolução é; isso permanece ainda como um dos
mistérios iniciais da Natureza”. Ele postulava que vivemos uma crise da
evolução e não simplesmente uma crise econômica, política, cultural ou
civilizatória. Expressou visão integradora: “A vida evolui a partir da Matéria,
a Mente, a partir da Vida, porque elas já estão involuidas lá: a Matéria é uma
forma da Vida que está velada, a Vida, uma forma de Mente que está velada.” Ele
definiu a pessoa humana como um ser em transição: “O homem ocupa a crista da
onda evolucionária. Com ele ocorre a passagem de uma evolução não consciente
para uma evolução consciente.” (SRI AUROBINDO, 1974).
A unidade humana, que está no centro do pensamento de Sri
Aurobindo estende-se aos domínios militar, econômico e administrativo. Ela
respeita e valoriza a diversidade (AUROBINDO, 1970). A visão mundialista insere
as propostas para a política numa visão cosmopolita da unidade humana, para
além do patriotismo, dos interesses de clãs e tribos, étnicos ou nacionais. Ela expressa a necessidade de unidade
política humana e de uma cosmovisão ampliada para compreender os tempos em que
vivemos. Insere a história humana no ciclo muito mais vasto da história
natural.
A cosmovisão indiana expressa uma visão cíclica da evolução.
A descrição mitológica contida no Vishnu
purana, escritura hindu referente ao deus da preservação, Vishnu,
corresponde à descrição científica ocidental do big-bang, da dilatação do Sol e
sua transformação, daqui a alguns bilhões de anos, em uma estrela gigante
vermelha, quando seu calor envolverá a Terra. A moderna explicação cientifica
para a origem do universo guarda alguma similaridade com aquilo que os antigos sábios
indianos intuíram há milênios ao formularem essa cosmovisão abrangente.
“No fim de
mil períodos de quatro idades, que completam um dia de Brahma, a Terra está
quase exausta; então Vishnu assume o caráter de Destruidor (Shiva) e volta a
reunir todas as criaturas em si mesmo. Entra nos Sete Raios do Sol e absorve
todas as águas do globo, faz evaporar a umidade, secando toda a Terra.
Alimentados com esta umidade, os Sete Raios solares se convertem em sete sóis
por dilatação e, finalmente, põem fogo no mundo. Hari, o destruidor de todas as
coisas, consome por último a Terra.”
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