quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Lagoas urbanas



Caminhando às margens do lago Paranoá, em Brasília, recebo o vento úmido no rosto e ouço o barulho das pequenas ondas na superfície das águas. Situada no Planalto central brasileiro, a 1000 metros de altitude, Brasília tem muitos meses secos por ano.

O que seria de Brasília sem o lago Paranoá?

O lago tem importante função paisagística e em torno dele se planejou o plano piloto, os bairros residenciais e se organizaram várias atividades urbanas. Há algumas décadas ele foi poluído por esgotos urbanos não tratados; construíram-se, então, estações de tratamento de esgotos. As faixas de terra em suas margens foram invadidas e ocupadas por proprietários de terrenos vizinhos e foi politicamente difícil desprivatizar áreas ocupadas por moradores poderosos. O Lago do Paranoá foi inicialmente construído para o abastecimento urbano e para a geração de energia elétrica. Tornou-se elemento central da paisagem de Brasília. O assoreamento em suas extremidades reduziu sua superfície. Nos 40 anos desde sua construção, mais de 2 km2 de superfície da água foram perdidos e milhares de metros cúbicos de água foram reduzidos de seu volume total, devido aos sedimentos trazidos pelas enxurradas. A lagoa do palácio Jaburu, da vice-presidência, perdeu sua capacidade de renovação natural e passou a ser abastecida por meio do bombeamento de água. São rebaixados os lençóis subterrâneos, sugados de forma descontrolada pelos poços artesianos. As águas de superfície e as águas subterrâneas, partes de sistemas de vasos comunicantes integrados.

O lago serve para o turismo e o lazer, muitos clubes recreativos se localizam em suas margens. Ele tem a função vital de umidificar o ar, que fica muito seco durante as estiagens. O perímetro de Brasília tombado como patrimônio da humanidade pela UNESCO chega a sua orla. O Paranoá cumpre o papel de hidratação da atmosfera.

       


             

Figura - Lago Paranoá, Brasília.

Fonte: Wikipédia

O presidente Juscelino Kubitschek gostava de lagos e lagoas. Quando foi prefeito de Belo Horizonte nos anos de 1940, ele construiu a lagoa da Pampulha num bairro diferenciado na cidade e que transformou a dinâmica urbana.  Um terço da superfície dessa lagoa já foi assoreada por sedimentos provenientes de sua bacia de drenagem.

 

           


Figura - Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte – um terço de sua área foi assoreada.

Fonte: Wikipédia

A urbanização no entorno das lagoas e os efluentes neles lançados tornam críticos e vulneráveis esses ambientes urbanos. Entre os lagos e lagoas associados a concentrações urbanas no Brasil encontram-se o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba em Alagoas.

 


Figura - Lagoa de Mundaú, Maceió, AL.

Fonte: Wikipedia

No Rio de Janeiro, as lagoas de Jacarepaguá e a lagoa Rodrigo de Freitas. Em Niterói, as Lagoas de Piratininga e Itaipu; na Região dos Lagos (RJ), as lagoas de Maricá, Guaratiba, Cardiri, Guarapina, Jaconé, Saquarema e Araruama; a Lagoa Feia e o complexo lagunar da restinga de Quissamã.

Em Santa Catarina, o Sistema lagunar Santo Antônio-Mirim-Imaruí e a conhecida Lagoa da Conceição. No Rio Grande do Sul, o Sistema Lagunar Patos-Mirim-Mangueira. Há, ainda, reservatórios construídos para o abastecimento urbano, como o de Vargem das Flores, em Belo Horizonte, os da Billings e Guarapiranga em São Paulo.

Todos esses lagos e lagoas urbanas sofrem com maior ou menor intensidade os efeitos da ocupação do solo no seu entorno e merecem cuidados especiais para sua proteção e a manutenção da boa qualidade de suas águas.

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