segunda-feira, 23 de maio de 2016

PAZ E ECOLOGIA INTEGRAL



Pierre Weil e eu publicamos em 1990 na revista Thot um artigo intitulado “ A paz no espírito dos homens: o princípio básico da UNESCO está sendo esquecido. ” O preâmbulo do ato que constituiu a UNESCO afirma que “ Se as guerras nascem nos espíritos dos homens, é nos espíritos dos homens que devem ser erguidos os baluartes da paz. ”
Naquele artigo, examinamos como a dimensão da paz interior foi esquecida nos programas de pesquisa e formação.[1]
                                  
Figura  - A transmissão da arte de viver em paz. Fonte: Weil e Ribeiro, Thoth,  1990.

A ecologia teve origem no campo das ciências biológicas. Durante o século XX se expandiu para o campo das ciências sociais e para o campo das ciências da subjetividade. Estudados de perto, os três grandes campos da ecologia incluem inúmeros outros, cada qual com um corpo de conhecimentos a ele associado. O campo da ecologia da natureza se desdobra nas áreas da ecologia vegetal, animal, de comunidades, da paisagem, cósmica, magnética, planetária, energética. O campo da ecologia social se ramifica na ecologia humana, cultural, política, urbana, industrial, econômica, jurídica, do trabalho. Por sua vez, o campo da ecologia interior se desdobra nas áreas da ecologia do ser, evolutiva humana, da consciência, dos saberes, informacional, da criatividade, mental, corporal, das emoções, sensorial, médica, profunda, transpessoal, espiritual e enfatiza o autoconhecimento.[2] A combinação desses três grandes campos e seus desdobramentos conduz à ecologia integral, a visão holística da ecologia, adotada pelo Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si em 2015.
A construção da paz consigo mesmo e a abordagem da ecologia interior complementam o enfoque socioambiental com que lida o gestor ambiental, ao enfrentar conflitos.  Pode-se adaptar o preâmbulo da UNESCO ao campo das relações com a natureza: “Se a destruição da natureza nasce nos espíritos das pessoas humanas, é nos espíritos das pessoas humanas que devem ser erguidos os baluartes da preservação ambiental e da ética ecológica”. 
Pierre Weil contribuiu com a ecologia integral ao aprofundar-se na ecologia interior. Ele desvendou mecanismos psicológicos e elaborou um método para se alcançar a paz com a natureza, social e consigo mesmo. Esse método é baseado no conhecimento das emoções, do corpo e da mente e no suposto de que a paz interior é fundamental para se alcançar a paz social e com a natureza. A partir da compreensão da unidade com o todo e da consciência ecológica, ele acreditava ser possível reverter os desequilíbrios e a destruição da paz.  Na teoria fundamental da UNIPAZ, ele expôs de forma didática os conhecimentos sobre a ecologia integral que aqui sintetizamos em meia página. Ali ele afirmava que “Todas as galáxias do universo são sistemas energéticos e que essa energia assume três formas inseparáveis: informática (mente), biologia (vida) e física (matéria); que o homem é parte integrante deste sistema energético, sendo feito de matéria (corpo), vida (emoções) e informática (mente) inseparáveis do todo. Em seguida ele se aprofunda nos aspectos subjetivos e da ecologia interior.  Constata que, na sua mente, o homem se separa do universo e cria a fantasia da separatividade (Homem-universo; Eu-mundo; Sujeito-objeto); que sua mente o separa da sociedade e da natureza e se esquece de que a natureza, sociedade e homem são inseparáveis. Mais ainda, a mente se considera separada da informática (consciência) do todo; a mente individual se considera separada da mente do universo (mentes que os hindus chamam de Atman e Brahman). O homem cria em sua mente a fragmentação, o reducionismo; em sua vida, desenvolve emoções de apego, raiva, ciúme, orgulho, medo, depressão e em seu corpo sente fome, carências alimentares, tensões, respiração inadequada, doenças. Então, começa o processo da destruição da ecologia do ser quando se gera um paradigma de fragmentação; e porque se considera separado, gera emoções destrutivas no plano da vida, mais particularmente o apego e a possessividade de coisas, pessoas e ideias que lhe dão prazer; e por causa das emoções destrutivas surge o stress que destrói o equilíbrio do corpo. ” Pierre Weil explicou como o apego gera o medo da perda e como o medo da perda produz estresse e doenças de origem psicossomática.


[1] Ali foram apresentadas as rodas da transmissão da arte de viver em paz, do processo global de destruição e do despertar da paz no espírito dos homens, posteriormente desenvolvidas por Pierre no seu livro sobre A Arte de viver em paz.
[2] Para uma descrição mais detalhada de cerca de 30 campos das ciências ecológicas, ver o livro Ecologizar – volume 1, princípios para a ação, Editora Universa, 2009.

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