segunda-feira, 23 de maio de 2016

GESTÃO AMBIENTAL E CULTURA DE PAZ




Sendo o Brasil um país extremamente desigual social e economicamente, bem como em termos de acesso ao conhecimento, cada um dos temas com que se lida na gestão ambiental gera controvérsias: organismos geneticamente modificados-OGMs, energia nuclear, código florestal e áreas de preservação permanente-APPs, licenciamento ambiental, impacto ambiental de projetos de infraestrutura, gestão de resíduos. Há conflitos de interesses quanto à destinação de áreas urbanas, se devem ser destinadas para a construção imobiliária ou para a proteção ambiental. Dramas e tragédias decorrem de conflitos ambientais. O  barulho causa sérios conflitos de vizinhança, stress mental com a perda do sono durante a noite. Provoca tragédias, tais como a ocorrida com o dono de bar com música ao vivo, assassinado por um vizinho que não conseguiu manter o controle emocional diante da poluição sonora. No Brasil são frequentes os assassinatos de líderes ambientalistas que entram em rota de colisão com interesses econômicos poderosos. Comunidades locais e povos tradicionais se opõem a grandes projetos que exercem pressão econômica associada a pressão política e uso dos recursos jurídicos a seu favor.
Saber lidar com tais conflitos é vital para o gestor ambiental. No mundo atual o risco de violência aumenta na medida em que há mais gente, mais competição por recursos naturais, maior densidade de ocupação do espaço.
No dia a dia da atividade do gestor ambiental em diversas escalas - município, estado, federação -  está presente o tema da cultura de paz e da mediação de conflitos.[1]  Um gestor ambiental ou da água lida com disputas de interesses e visões de mundo divergentes. Isso envolve resolver de modo não violento conflitos existentes na apropriação e uso de recursos naturais.
O gestor ambiental dispõe de instâncias de gestão colegiada e participativa nas quais exercita a capacidade de diálogo, a tolerância, a busca de pontes de convivência pacífica, de entendimento. Em tais colegiados ocorrem posições antagônicas que, após diálogos democráticos e participativos, podem transmutar-se em convergências e em denominadores comuns que atendem às visões e interesses das várias partes.
A água é um recurso ambiental que demanda trabalho de cooperação e de construção de consensos para ser partilhada. No Brasil há mais de 15 mil quilômetros de trechos de rios federais em zonas de conflito de uso, nos quais a disponibilidade é menor do que a soma das demandas. Disputas pelo uso da água colocam em campos opostos setores como o de produção de energia, o hidroviário, o de abastecimento humano, a agricultura e irrigação. Sistemas colegiados de gestão, bem como técnicas e métodos de alocação negociada de água são úteis para se reduzir a violência e para se mediarem disputas. Ver https://goo.gl/WvOfxD


[1] O livro Ecologizar, 4ª edição, publicado pela Editora Universa de Brasília, traz capítulos sobre ação federalista e sobre a arquitetura da gestão colegiada em conselhos, comissões e comitês, conferências e outros espaços para a participação social na política ambiental e de recursos hídricos.

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