sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A importância do conhecimento para a gestão ambiental municipal



Maurício Andrés Ribeiro 
Um dos principais instrumentos para a gestão ambiental é a produção e disseminação de informações.
A ignorância é um dos principais adversários da qualidade ambiental pois, por falta de conhecimento, são cometidas ações que danificam o ambiente.
Muitas vezes uma administração se inicia no escuro, sem conhecer aquilo que se realizou por administrações anteriores. Uma das tarefas do gestor é produzir, guardar e transmitir para seus sucessores o acúmulo de conhecimentos daquilo que  aprendeu. Economizam-se valiosos recursos públicos, pois assim  se evita reinventar a roda e recomeçar do zero. A preservação da memória técnica e administrativa de uma gestão para outra pode ser valiosa e pode economizar recursos vultosos.
A carência de material didático e pedagógico sobre temas ambientais locais foi um dos principais problemas que identificamos na gestão ambiental em Belo Horizonte no início dos anos 90. Juntamente com a necessidade de reciclar e treinar os professores  da rede publica municipal, faltava material que fosse útil em sala de aula, sobre os problemas principais e prioritários da cidade.
O conhecimento estava na cabeça de quem o aprendera por experiência e quando essas pessoas se aposentavam, levavam embora essa memória .
Na Secretaria de Meio Ambiente em Belo Horizonte no início dos anos 90,  sistematizamos numa série de Cadernos de Meio Ambiente o conhecimento sobre os principais temas da gestão ambiental urbana. 
Figura 1-Cadernos de Meio Ambiente -BH - 90-92
O primeiro passo foi identificar as prioridades temáticas, o que foi feito a partir de amplo diagnóstico ambiental da cidade. Uma agenda aprovada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente- Comam indicou como prioridades temáticas a poluição sonora – causa de mais da metade de reclamações ambientais -  a arborização urbana, a ocupação de encostas e os riscos geológicos, incêndios em áreas verdes, a qualidade do ar, a questão das águas e das lagoas urbanas, a Serra do Curral, a legislação ambiental.
O pessoal capacitado da secretaria de meio ambiente formou equipes técnicas multidisciplinares que conceberam e redigiram os cadernos. Eles foram submetidos ao crivo crítico do Comam e ali aprimorados com a participação de consultores especializados.
Essa série de cadernos foi útil durante a gestão e formou memória técnica à disposição de outras administrações da cidade e de outras prefeituras com problemas semelhantes. A educação pelos pares, por parte de quem já viveu e resolveu problemas, é um método eficaz de disseminação de conhecimentos.
Em outras ocasiões recorremos a centros de pesquisa para produzir o conhecimento necessário para a tomada de decisão. Um exemplo foi a contratação do Centro Tecnológico para delimitar o local exato da nascente de água numa área que seria transformada no parque da Mata das Borboletas, no bairro Sion. Essa identificação foi valiosa para se delimitar a área de proteção  obrigatória por lei  e para negociar com os proprietários a cessão de uma parte dela para ser transformada em parque público, uma reivindicação antiga dos moradores dos bairros adjacentes.
Em outras ocasiões se frustrou essa tentativa de aproximar a gestão ambiental municipal de universidades e centros acadêmicos. Assim, por exemplo, quando a prefeitura convidou uma grande instituição universitária a produzir conhecimento  aplicável para a despoluição e proteção da Lagoa da Pampulha, grande parte das propostas formuladas pelos pesquisadores eram de interesse profissional pessoal, sem aplicabilidade prática. Eles entenderam a Prefeitura como um órgão de fomento e promoção da pesquisa acadêmica e não como uma instituição comprometida com a solução de problemas. As propostas não foram realizadas, pois não trariam os resultados práticos esperados de uma administração pública municipal.

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