quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A pandemia acelerou transformações nas cidades

 Maurício Andrés Ribeiro

 

                                          Academia ao ar  livre com isolamento  em Brasília.

Ao longo da história muitas cidades foram impactadas por guerras, furacões, terremotos, terrorismo e tiveram a capacidade de se reconstruir. A pandemia testou a capacidade de resiliência urbana e de se adaptar e reinventar. Os meses de quarentenas e lockdowns provocaram  várias mudanças nas cidades.

Milhões de metros quadrados construídos de espaço para escritórios nas cidades ficaram  vazios. Esvaziaram-se  os grandes escritórios com a adoção do teletrabalho em casa. Empresas passaram a contratar pessoas que vivem em qualquer lugar, desde que estejam bem conectadas à internet. A produtividade do trabalho não se reduziu e tende a se tornar permanente o teletrabalho, no qual  alteram-se as relações entre empregador e empregados: é necessário aumentar a confiança, reduzir a vigilância sobre o tempo e focar em objetivos do trabalho para aumentar a motivação do trabalhador.

O comércio  e os serviços à distância com entregas em casa se intensificaram e esvaziaram-se  as lojas físicas.  Espaços  públicos em frente ao comércio se tornaram uma extensão dessas atividades. Os espaços entre mesas nos restaurantes e bares passaram a ser maiores e a densidade menor para evitar contágios. Cabines transparentes foram instaladas em torno de mesas de restaurantes em Amsterdam, para isolar fisicamente as pessoas. Instalaram-se bolhas para a prática de yoga em cidade no Canadá. Academias de ginástica ocuparam espaços ao ar livre em Brasília com isolamento físico.

Áreas comerciais em cidades americanas foram atingidas pelas mudanças nos modos de se fazer compras. Lojas tornaram-se incapazes de pagar aluguéis.   Shoppings foram adaptados para uso residencial, mesclado com lojas e espaços comunitários. Tornaram-se minibairros com usos múltiplos, com vias  de pedestres internas. O retrofit desses espaços  pode aliviar o déficit de moradias.  Os espaços para automóveis ficam subterrâneos ou do lado de fora.

Transformou-se  o modo como se  usam os espaços nas cidades. Hotéis se esvaziaram, com a crise no turismo. Em algumas cidades, passaram a ser usados como hospitais para atender à demanda de leitos. Em Lisboa, alojamentos de turismo foram convertidos em espaços residenciais.

Indústrias também fecharam ou reduziram seu ritmo de atividades.

Numa etapa inicial da pandemia, as ruas se esvaziaram de carros, motos, ônibus, bicicletas e pedestres. Mas em seguida, em muitas cidades os automóveis passaram a ser  mais usados, pois evitou-se o uso do transporte coletivo ou do metrô devido ao  maior risco de contágio.

Um efeito colateral da pandemia foi  acelerar o debate sobre imóveis vazios ou subutilizados nas cidades.  Pergunta-se: por que tanta gente sem casa e tanta casa sem gente? Em Barcelona recorreu-se a instrumentos que reconhecem a função social da propriedade e da infraestrutura urbana para lidar com os imóveis vazios. O governo local pressionou os proprietários de muitos imóveis a alugar rapidamente os apartamentos vazios. Caso não o façam, podem ser desapropriados por metade do preço de mercado para serem  cedidos a quem precisa de moradia. Tal intervenção no mercado imobiliário resolve dois problemas ao mesmo tempo: dá um uso socialmente relevante a imóveis não utilizados em áreas com boa infraestrutura e mantidos como reserva para valorização e, ao mesmo tempo, alivia o déficit de moradias. Proprietários, prefeituras agentes imobiliários, movimentos sociais  e o judiciário são alguns dos atores envolvidos nesse tema.

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