Pietá - Retábulo na Ermida da Serra da Piedade - Caeté - MG
Maurício Andrés Ribeiro
A pandemia trouxe perdas econômicas e mortes. O luto afetou diretamente aqueles que sofreram perdas de parentes e amigos. Indiretamente, afetou toda a sociedade. Evidenciou a fragilidade da vida humana. Mostrou que todos e cada um estão sujeitos a partir de uma hora para outra.
A pandemia despertou atitudes distintas: para alguns foi uma oportunidade de lucrar ao fraudar contratos, superfaturar compras de equipamentos, sentir prazer com a dor própria ou do outro, como os sádicos e masoquistas.
Outros se mantém indiferentes diante do sofrimento alheio. Estão anestesiados e reagem com frieza, distância e impiedade.
Outros ainda têm compaixão. Sentem piedade, se compadecem da má sorte e desejam aliviar a dor de quem sofre. Tem empatia para com a tragédia pessoal dos outros e manifestam ternura. Tal atitude se aproxima do amor, da solidariedade para com o mundo e com os outros.
A compaixão tem uma relação direta com questões de identidade. Alguém que se identifica com um grupo – um time de futebol, um partido político, uma raça, uma nação – tende a sentir compaixão quando algum membro desse grupo se aflige. É compassivo se o outro pertence ao círculo mais próximo de parentes e amigos com quem se tem relações afetivas. Tende-se a ser indiferente para com os desconhecidos e a ser cruel para quem é considerado inimigo ou desafeto. Um sociopata voltado para si próprio tem pouca empatia para com os demais.
Para estender a compaixão a um universo mais amplo, é importante sentir-se parte desse universo, da humanidade, para além de nacionalidades específicas. Alguém que se coloca separado, como se fosse distinto dessa unidade, não tem esse sentimento. Albert Einstein tinha consciência disso quando falava da ilusão de ótica da consciência de nos considerarmos separados do resto e considerava isso uma prisão: “Nossa tarefa é nos libertar dessa prisão alargando o círculo da nossa compaixão a fim de que abrace a todos os seres humanos e a natureza inteira em seu esplendor.”
A compaixão pode se estender aos animais e outras formas de vida, quando se percebe a unidade da própria vida com a dos demais seres humanos e seres vivos. Todas as vidas importam, dizem os que se sentem unidos com todas as formas de vida, à maneira de São Francisco de Assis, que considerava como irmãos o sol, a lua, as árvores os animais.
A pandemia mostrou a importância de transcender as micro identidades e valorizar a unidade humana entre si e com o mundo vivo. A compaixão num círculo mais amplo, que se alarga da espécie humana para as demais espécies, reduz o sofrimento e as aflições. A proteção aos habitats de animais silvestres e uma relação mais amigável com os animais são modos de prevenir outras pandemias.
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