Mas
nem sempre as ações são movidas por tais virtudes. Em muitos casos
elas são movidas por interesses
egoístas. Nesta pandemia ele se manifestou de vários modos, em várias escalas.
Macro
egoísmos se manifestam nas relações entre
países. Alguns se colocaram como os primeiros a defender sua população sem
solidariedade com os demais. Atitudes de egoísmo nacional ocorreram, por exemplo, quando aqueles com maior poderio
econômico compraram todo o estoque de medicamentos e equipamentos de saúde
para atender a sua população na competição predatória. Países ricos têm condições de comprar antecipadamente
todos os estoques de vacinas.
Houve
egoísmos de corporações de servidores públicos que não abriram mão de
privilégios e os defenderam com unhas e
dentes. Houve egoísmos entre
empresas que internalizaram os
lucros e externalizaram os custos para os locais em que operam. Houve egoísmo
nas fraudes no acesso a auxílios emergenciais; no superfaturamento para ter
ganhos abusivos, ocorrido com a dispensa de
licitações na compra de respiradores e equipamentos importados; nas atitudes de
romper isolamentos e quarentenas sem consideração com as sobrecargas nos
serviços de saúde e nos riscos que isso trouxe aos idosos e mais vulneráveis.
Edgar Morin especulou se os desconfinados depois das
quarentenas retornarão às normoses egoístas e consumistas ou se renascerá uma
vida convivial e amorosa, consciente da interdependência.
Num mundo movido pela generosidade uma vacina seria distribuída de modo justo como um bem comum da humanidade e se quebrariam os direitos de patentes.
A
generosidade pode se expressar ao se investir no saneamento e em moradias que
tragam condições para todos lidarem de modo responsável com a pandemia.
Se quisermos reduzir as
desigualdades no mundo e no Brasil um dos caminhos é passar a atuar de modo
menos egoísta e mais justo. Os males do
egoísmo são maiores e mais profundos do que os males desse ou daquele
modelo ou sistema econômico e político.
Há egoístas capitalistas, egoístas socialistas, egoístas comunistas. Os
capitalistas podem ser aqueles
gananciosos predadores que amealham tudo para si e se recusam a compartilhar com os demais. Por outro lado,
podem ser aqueles que colocam todo o seu capital e fortuna a
serviço da coletividade e do bem
comum. Em cada segmento pode-se
discernir entre aqueles que praticam ações em prol do coletivo e da vida e
aqueles que não o fazem. Dissolver
o ego e fortalecer o self por meio de
uma transformação espiritual e psicológica podem ajudar a lidar com os males
desses sistemas. Sri Aurobindo lembra que
“Para o ego, falar de fraternidade é
falar de algo contrário à sua própria natureza. Tudo o que ele conhece é a
associação para alcançar finalidades egoísticas comuns e o máximo a que ele
pode chegar é a uma organização mais próxima para a distribuição igualitária de
trabalho, produção, consumo e desfrute”. (O ciclo humano - 15 – 546).
Quando
e se a atitude egoísta for superada por uma atitude mais generosa será mais
viável alcançar a coimunidade necessária para lidar com a pandemia, bem como
prover habitação e saneamento que ofereçam condições de uma saúde preventiva
para todos.
Uma vida pouco cooperativa trará cedo ou tarde
prejuízos a todos. Uma vez
passada a fase crítica da pandemia, com as quarentenas, lockouts e isolamentos
físicos, como abolir os antigos padrões de ganância e fomentar as atitudes de generosidade, solidariedade, cooperação e união para que se tornem,
voluntaria e conscientemente, o padrão dominante nas sociedades?
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