Maurício Andrés Ribeiro
Durante a pandemia as atitudes solidárias aconteceram na escala local, entre países e no âmbito global. Ela motivou atitudes de ajuda e cooperação que ocorreram de vários modos:
1. Na autoajuda em que comunidades carentes descobriram novas formas de cooperar e mostraram lições dadas pelas pessoas comuns, que contaram com sua própria energia interna. A organização comunitária trouxe resultados positivos, como aconteceu na favela de Paraisópolis, em São Paulo, em que a associação de moradores organizou modos de suprir a ausência do poder público.
2. Várias organizações comunitárias se organizaram de baixo para cima sem esperar ação dos governos, para responder de modo prático e imediato às necessidades de proteção contra o vírus: influenciaram intervenções oficiais, fizeram campanhas de auxílio emergencial por crowdfunding, produziram máscaras, disseminaram informação valiosa; desenvolveram ações solidárias; identificaram doentes; se associaram com empresas, governos e igrejas; ofereceram educação sanitária e infraestrutura para lavar as mãos.
3. Muita gente se adaptou à pandemia recorrendo a vizinhos, parentes, primos, avós. Autoajuda, auto-organização, solidariedade familiar e comunitária foram eficazes. Numa emergência em que escolas fecharam e crianças ficaram em casa, enxergou-se com nitidez o papel dos avós na companhia, saúde e educação das crianças. Tornaram-se mais visíveis os elos entre as gerações e a funcionalidade e valor da convivência em famílias estendidas com laços afetivos e de convívio.
4. Empresas exerceram papel social e apoiaram as comunidades em que operam por meio de doações de bens ou prestação de serviços. Consórcios de doações com a participação de ONGs e empresas evitaram o desperdício de alimentos e os doaram para comunidades pobres.
5. Acionistas deixaram de buscar egoisticamente apenas seus lucros passaram a valorizar investimentos com retorno socioambiental e doaram recursos para lidar com a doença. Investidores perceberam que as precárias condições de vida de milhões de pessoas com falta de água, moradia, salubridade, gera prejuízos e riscos de saúde para a parcela visível da população.
6. Alguns milionários pediram a taxação de grandes fortunas. Ainda foram poucos, é uma atitude que eventualmente pode contagiar outros bilionários no Brasil e no mundo para que, em surtos de solidariedade (e de auto interesse expandido), ajudem a humanidade nessa pandemia.
7. Palestinos e israelenses se uniram para lidar com o coronavirus de modo cooperativo.
8. A União Europeia aprovou um acordo para ajuda econômica mútua.
9. Acelerou-se a regularização de imigrantes na Itália.
10. Na Índia, pais desigual, a pandemia acelerou a consciência sobre a importância da fraternidade, "o senso de que todos sejam governados pelas mesmas regras mutuamente benéficas" e de que os pobres são seres humanos que precisam de casas bem ventiladas e decentes. Viram-se ali expressões de egoísmo e de solidariedade.
Passou a ser valorizada a coimunidade, o compromisso individual voltado para a mútua proteção geral, proposta pelo filósofo Peter Sloterdijk. Ele afirma que estamos aprendendo uma nova gramática de comportamento. A pandemia evidenciou a necessidade de um contrato social entre pobres e ricos que beneficie ambas as partes, pois suas sobrevivências e destinos estão interconectados.
A solidariedade está no exemplo do Dr. Sabin, que renunciou à patente da vacina contra poliomielite, abriu mão de royalties e direitos de propriedade intelectual e prestou um serviço inesquecível às crianças e à humanidade. Esse exemplo pode inspirar quem descobrir e produzir a vacina do Covid-19 caso o conhecimento venha a ser tratado como patrimônio da humanidade, remunerando justamente os custos de quem fizer uma invenção, e repartindo os benefícios entre todos que dele necessitam.
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