quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Generosidade e egoísmo na pandemia

 

 

Três motivações para a ação: egoísta, ecológica,  servir ao mundo.

 Maurício Andrés Ribeiro

 A vacina da  poliomielite foi inventada pelo Dr Jonas Salk e pelo Albert Sabin. Eles generosamente abriram mão dos direitos de patente a vacina para beneficiar o todo. Para  eles, prestar um serviço à humanidade tinha maior significado do que se apropriar do lucro de sua invenção.

Mas nem sempre  as ações são  movidas por tais virtudes. Em muitos casos elas  são movidas por interesses egoístas. Nesta pandemia ele se manifestou de vários modos,  em várias escalas.

Macro egoísmos se manifestam nas relações entre  países. Alguns se colocaram como os primeiros a defender sua população sem solidariedade com os demais. Atitudes de egoísmo nacional  ocorreram, por exemplo, quando aqueles com maior poderio econômico compraram todo o estoque de medicamentos e equipamentos de saúde para atender a sua população na competição predatória.  Países ricos têm condições de comprar antecipadamente todos os estoques de  vacinas.

Houve egoísmos de corporações de servidores públicos que não abriram mão de privilégios e os defenderam com unhas e  dentes. Houve egoísmos  entre empresas que internalizaram  os lucros  e externalizaram os custos  para os locais em que operam. Houve egoísmo nas fraudes no acesso a auxílios emergenciais; no superfaturamento para ter ganhos abusivos, ocorrido com a dispensa de licitações na compra de respiradores e equipamentos importados; nas atitudes de romper isolamentos e quarentenas sem consideração com as sobrecargas nos serviços de saúde e nos riscos que isso trouxe aos idosos e mais vulneráveis.

Edgar Morin  especulou se os desconfinados depois das quarentenas retornarão às normoses egoístas e consumistas ou se renascerá uma vida convivial e amorosa, consciente da interdependência.

Num mundo  movido pela generosidade uma vacina seria distribuída de modo justo como um bem comum da humanidade e se quebrariam  os direitos de patentes. 

A generosidade pode se expressar ao se investir no saneamento e em moradias que tragam condições para todos lidarem de modo responsável com a pandemia.

Se quisermos reduzir as desigualdades no mundo e no Brasil um dos caminhos é passar a atuar de modo menos egoísta e mais justo. Os males do egoísmo são maiores e mais profundos do que os males desse ou daquele modelo  ou sistema econômico e político. Há egoístas capitalistas, egoístas socialistas, egoístas comunistas.  Os capitalistas podem  ser aqueles gananciosos predadores que amealham tudo para si e se recusam  a compartilhar com os demais. Por outro lado, podem  ser aqueles  que colocam todo o seu capital e fortuna a serviço da coletividade  e do bem comum.  Em cada segmento pode-se discernir entre aqueles que praticam ações em prol do coletivo e da vida e aqueles que não o fazem. Dissolver o ego e fortalecer o self  por meio de uma transformação espiritual e psicológica podem ajudar a lidar com os males desses sistemas.  Sri Aurobindo lembra que “Para o ego, falar de fraternidade é falar de algo contrário à sua própria natureza. Tudo o que ele conhece é a associação para alcançar finalidades egoísticas comuns e o máximo a que ele pode chegar é a uma organização mais próxima para a distribuição igualitária de trabalho, produção, consumo e desfrute”. (O ciclo humano - 15 – 546).

Quando e se a atitude egoísta for superada por uma atitude mais generosa será mais viável alcançar a coimunidade necessária para lidar com a pandemia, bem como prover habitação e saneamento que ofereçam condições de uma saúde preventiva para todos.

Uma vida pouco cooperativa trará cedo ou tarde prejuízos a todos. Uma vez passada a fase crítica da pandemia, com as quarentenas, lockouts e isolamentos físicos, como abolir os antigos padrões de ganância e  fomentar as atitudes de generosidade,   solidariedade,  cooperação e união para que se tornem, voluntaria e conscientemente, o padrão dominante nas sociedades?

 

 

 

 

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