quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Na pandemia há mais motivos para agradecer pela vida.


Maurício Andrés Ribeiro

Depois de meses de isolamento, quarentena e pandemia, é preciso agradecer ao fato de  estar vivo e da doença não ter tido resultados piores do que mostrou até o momento . Obrigado, muchas gracias, thank you, arigatô, grazie mille, merci beaucoup, danke schon. Em várias línguas se manifesta a gratidão. Thanksgiving, dar graças a Deus pela vida.

A população crescente de idosos no mundo e no Brasil tem bons motivos para agradecer. Há poucas décadas a idade média das pessoas era muito mais baixa e muitos não chegavam a ser idosos.

Como retribuição e sinal de gratidão pela vida, os idosos tem muito a dar. Nas famílias,  podem contribuir para a saúde e a educação das gerações mais novas, seus filhos, netos e bisnetos. Podem transmitir conhecimentos que acumularam com sua experiência.

Do mesmo modo, na interação com os mais jovens, podem aprender com eles sobre novos conceitos e ideias que circulam num mundo cada vez mais consciente dos temas ecológicos e climáticos. Os jovens se tornaram educadores dos mais velhos.

Aqueles idosos que ainda trabalham podem dedicar-se a atividades que contribuam para reduzir a pegada ecológica e reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Aqueles que deixaram de trabalhar dispõem de tempo livre que podem dedicar a atividades voluntarias para as quais tenham gosto e aptidão e que reduzam os impactos sobre o ambiente.

Nesse abundante tempo livre podem também educar-se, considerando que a educação continuada vai até o final da vida, e tornar-se menos eco alienados e ecologicamente mais conscientes.

A idade avançada é um período propício para fazer um balanço do que foi sua vida, dos impactos ambientais que causou, e para aprimorar atitudes e comportamentos que os tornarem menos impactantes.

As cidades atuais oferecem  facilidades para idosos, com estacionamento preferencial. Eles podem circular no transporte coletivo e no metrô gratuitamente e podem se deslocar com baixo custo pelas cidades, fora do período de isolamento da pandemia.

As cidades oferecem múltiplas oportunidades de programação cultural gratuita ou de baixo custo, que podem atrair os idosos para se capacitarem.  A vida ao ar livre e nos espaços abertos, as caminhadas, podem contribuir para a boa manutenção da saúde, para novas relações sociais e para tomar conhecimento do espaço em que vivem.

O viajismo e o turismo geriátrico também trazem benefício para a saúde dos idosos, mas por outro lado têm um impacto ambiental pesado, ao emitirem gases de efeito estufa. Evitar o consumismo na forma de viagens é um tipo de contribuição que os idosos podem dar à saúde do planeta.

A vida contemplativa é por natureza menos impactante ambientalmente do que a vida ativa. Aprender a contemplar, a meditar, a ter autoconhecimento ampliado faz bem à saúde individual e ambiental.

Vários problemas de saúde dos idosos resultam de hábitos adquiridos muito tempo antes, durante sua infância, a adolescência e maturidade. Assim, por exemplo, posturas corporais incorretas quando jovem podem resultar em problemas na velhice. A reeducação postural global pode ser exercitada e também ensinada aos mais jovens, hoje em dia sujeitos a novos problemas devido ao uso de computadores, celulares etc com posturas corporais inadequadas. Hábitos alimentares também podem contribuir para a manutenção da saúde e a educação alimentar desde jovens pode reduzir a pressão sobre os serviços de assistência à saúde. A respiração consciente é um hábito saudável desde a infância e que pode trazer benefício à saúde dos mais idosos.

Há idosos sábios, conscientes, que aprenderam com a vida e que dispõem de ensinamentos valiosos a transmitirem  para as gerações mais jovens. Entretanto, há aqueles idosos que se tornaram doentes física, emocional e mentalmente e que necessitam de cuidados e de reaprendizado, para que possam continuar a prestar algum serviço à comunidade e dar sentido a   suas vidas nesse período final.

O envelhecimento da população e o crescimento de sua idade média pode significar, coletivamente, um amadurecimento da sociedade no sentido de tornar-se ecologicamente mais consciente e deixar para trás a fase juvenil associada ao consumismo e a hábitos ecologicamente pouco amigáveis. Um dia de ação de graças vegano pode estar no horizonte, e os perus vão também agradecer.

 

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