quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Instrospecção, oportunidade para vida interior mental e emocional

 

Maurício Andrés Ribeiro

 

Yoga - Escola no Sri Aurobindo Ashram – Delhi

 Durante a pandemia, todos os dias se noticiaram muitas mortes, atingindo pessoas próximas. O freio de arrumação proporcionado pela pandemia reduziu as atividades externas.  Tomaram-se cuidados para reduzir riscos. Novos hábitos de higiene, de distanciamento físico, de uso de máscaras, lembraram que a vida é perigosa. Aumentou o  uso do álcool e das  drogas como uma válvula de escape da consciência, que assim viaja para outras realidades. Mas  este caminho  tem  efeitos colaterais, tais como a violência, a criminalidade, os  danos à própria saúde.

A presença da morte  induziu à introspecção, a questionamentos do modo de vida anterior.  A prudência recomendou  hibernar, reduzir as atividades vitais como os ursos e esperar o pior do surto passar. Isso requer um espírito estoico, capacidade de esperar quieto sem se expor. Houve mais tempo livre devido ao confinamento e ao isolamento físico. Ela abriu lugar a uma vida mais meditativa, com poucos movimentos exteriores, mas com muita atividade interior, psíquica,  da consciência. As quarentenas liberaram tempos que eram gastos na agitação e no barulho. A vida contemplativa demanda intensa atividade interior e trabalho consigo. Focalizada em questões do universo mental e psicológico, lida com o intangível. Aumentaram as viagens para dentro de si, a respiração consciente e atenção ao agora, o autoconhecimento, a observação dos sentimentos, descobrir seu propósito e sentido na vida, seu  dharma. Nas  quarentenas  houve tempo de repensar, revalorizar certas atitudes e abandonar outras, mudar de vida e praticar exercícios.

Pode-se alterar estados de consciência e evitar ansiedades sem uso de químicos, por meio da meditação:  Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come; se meditar o bicho some”. Práticas de meditação reduzem o estresse, conduzindo a um estado de relaxamento em que são diminuídas a frequência respiratória, a quantidade de oxigênio consumida pelo metabolismo e a produção de gás carbônico na expiração. Ela exige equilíbrio emocional e lucidez mental, centramento,  capacidade de dominar  emoções, de  fortalecer a subjetividade.

A vida contemplativa reduz a pressão sobre os recursos no ambiente externo.  O estilo de vida com baixa demanda sobre os recursos naturais leva à economia do necessário e à recusa ao supérfluo. Reduzir o quanto possível a utilização de objetos de consumo, alimentos, vestuário, espaço, energia e chegar à pura  observação da vida, da natureza e das coisas são metas que reduzem efeitos degradadores sobre o ambiente. Mudanças de estilos de vida, com postura menos hiperativa, contra o frenesi alucinante e a velocidade, a valorização da lentidão – slow food, slow is beautiful – e a ênfase nos estudos reduzem o ritmo de emissão de gases de efeito estufa e a devastação ambiental.

Há quem saiba aproveitar períodos de isolamento para viajar para dentro de si em autoconhecimento. Na prisão involuntária Graciliano Ramos escreveu suas Memórias do cárcere e Sri Aurobindo escreveu suas Tales of prison life. Depois disso, Sri Aurobindo se recolheu num quarto onde viveu as últimas décadas de sua vida, em contato com poucas pessoas, meditando, escrevendo, interferindo nos negócios do mundo à distância por meio da força de suas ideias. Bem aproveitado, um período de confinamento, forçado ou voluntário,  pode gerar produtos valiosos.  

Na escala coletiva e global, a pandemia proporcionou oportunidade para uma introspecção civilizatória.

 

 

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