sábado, 7 de novembro de 2020

Respiração consciente, exercício valioso na pandemia

 


Um grupo praticando pranayamas – fonte: Wikipedia

 Maurício Andrés Ribeiro


 O sistema respiratório é o  canal de entrada  para o COVID-19. Usar máscaras, aprender a tossir ou a espirrar sem contaminar  os vizinhos, manter distanciamento físico  para não respirar o mesmo ar  que foi expirado por algum doente são hábitos valiosos para evitar a doença. Ambientes fechados, com ar condicionado e sem  renovação do ar passaram a ser  evitados como locais de risco de contágio.

Respirar é um ato que todo animal ou vegetal realiza do início ao final de sua vida. Da primeira inspiração ao último suspiro, o corpo interage com a atmosfera. Mas respirar não é apenas um ato natural. A respiração consciente, os vários modos e formas de respirar, o aprender a respirar corretamente, transformam esse ato elementar num ato cultural.

Durante minha estadia na Índia, nos anos 70,  tomei consciência da importância cultural da respiração. Os antigos iogues desenvolveram a prática de exercícios respiratórios como forma de concentração. Essa tradição desenvolveu técnicas de controle da respiração e modos de inspirar e expirar a energia que mantém a vida e que está presente em toda a natureza, conhecida como prana.   

A cosmovisão indiana se aprofundou nas ciências e artes da respiração universal e dos seres vivos e as comunicou de forma compreensível. Gaia também respira.  

Nas meditações, uma prática básica é prestar atenção ao corpo e a cada uma de suas partes e focar a atenção no ato de respirar, que conduz a pessoa à consciência do agora.  Quando se observa o movimento do ar para dentro e para fora do corpo, deixa-se de pensar no passado ou no futuro e a atenção orienta-se para o momento presente. A consciência do ato de respirar, associada à vibração de um som universal como o OM  durante a expiração acalma a mente. Tal prática pode ser exercitada cotidianamente nos tempos de deslocamento, nos transportes e salas de espera. Durante a pandemia se divulgaram nas redes sociais várias práticas de respiração e meditação.

Há várias formas de se respirar, cada qual com seus efeitos sobre o corpo, sobre a mente e as emoções.

O exercício de ritmar a respiração voluntariamente induz ao equilíbrio físico-emocional e aumenta a capacidade de percepção sensorial e mental. A boa respiração reduz estresse, hipertensão, depressão, relaxa, ajuda a emagrecer. Leva a um maior equilíbrio, bem-estar, flexibilidade, saúde. O estado de tranquilidade e de boa irrigação sanguínea que produz pode ser considerado uma preparação para níveis de desenvolvimento espiritual mais elevados, em que há mais percepção, mais consciência, mais harmonia na movimentação corporal e nos relacionamentos, mais segurança nas ações cotidianas, entre outras virtudes e habilidades. A maior ventilação proporcionada por uma respiração profunda pode alterar o estado corporal e de consciência. Neste ponto, é oportuno realçar a importância da sobriedade e advertir contra abusos em exercícios respiratórios e contra práticas como a retenção da respiração e outras manipulações perigosas para a saúde física e cerebral.

Cada atividade humana e estado de saúde se associa a uma forma de respiração. Um músico que toca um instrumento de sopro, como uma flauta, precisa ter fôlego e um controle preciso da respiração e do ar; atletas, nadadores, aqueles que desenvolvem trabalhos físicos, têm atividade respiratória e trocas de oxigênio e carbono mais intensas do que quem vive sedentariamente; a insuficiência respiratória de doentes na pandemia  do coronavirus exige aparelhos para ser compensada com a respiração artificial.

Durante a vida desaprendemos a respirar corretamente. Desenvolver a ciência e a arte de respirar faz parte de uma cultura respiratória fundamental.

 

 

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