O solo retém 3,8% de toda a água doce da superfície do planeta, o que corresponde a um volume 8 vezes maior do que toda aquela que corre nos rios e maior do que toda a umidade que existe na atmosfera.
A natureza tem ótimas maneiras de estocar água no subsolo. Para a maior parte dos mais de 5.500 municípios brasileiros e para milhares de distritos e propriedades rurais, a formação de estoques no solo é uma solução ecológica natural. Ela é possível em grande parte do território brasileiro, exceto nas áreas com rochas cristalinas no semiárido nordestino, que apresentam pouca capacidade de armazenamento.
As águas subterrâneas têm idades variadas. Há algumas que estão confinadas há milhões, milhares ou centenas de anos, em grande profundidade. Outras choveram recentemente e se infiltraram no solo há pouco tempo. Essas são menos profundas e estão mais vulneráveis a contaminações e poluições. Uma gota de chuva que hoje cai no solo pode demorar milhares de anos para percolar e chegar aos depósitos subterrâneos. Em Ribeirão Preto, por exemplo, as águas do Aquífero Guarani que abastecem a cidade foram identificadas por datações geocronológicas com idade em torno de 13.000 anos.
O serviço de estocagem de água no subsolo é prestado gratuitamente pela natureza. A água chove, se infiltra, percola e se acumula nos solos, de onde brota e alimenta os córregos, riachos e rios. É das águas subterrâneas que se origina o fluxo de base da água que alimenta muitos rios. Quando se extrai muita água do subsolo e os lençóis são rebaixados, muitas vezes isso significa o desaparecimento de nascentes e olhos d’água e a redução da vazão dos rios e das águas de superfície.
Nas reservas subterrâneas, sua quantidade é preservada, pois há menor evaporação do que nos reservatórios de superfície, especialmente em climas quentes e secos.
Ela se acumula nos lençóis freáticos de onde brota com qualidade muitas vezes melhor do que aquela que se infiltrou. A água é filtrada no solo não saturado, que retém parte de suas impurezas. As águas subterrâneas foram classificadas pela resolução Conama n.396 de 2008, que dispõe que as mais puras são as dos aquíferos destinados à preservação de ecossistemas em unidades de conservação de proteção integral e as que contribuem diretamente para os trechos de corpos de água superficial enquadrados como classe especial. As de Classe 1 são as dos aquíferos sem alteração de sua qualidade por atividades humanas e que não exigem tratamento para usos preponderantes devido a suas características hidrogeoquímicas naturais. Em ordem decrescente de qualidade chega-se às de Classe 5, destinadas a atividades que não têm requisitos de qualidade para uso.
Figura: Lençol freático (4) , aquífero livre (6) aquitardo (2) e aquífero confinado (5). Wikipedia
Guardar água em reservatórios subterrâneos é uma prática essencial para a gestão hídrica. Há uma variedade de modos pelos quais as águas se acumulam no subsolo. Alguns dos aquíferos formam uma rede conectada que se infiltra entre fissuras de rochas. Alguns tomam a forma de lagos subterrâneos, depositados sobre argila e solo impermeável; outros são como esponjas em solo poroso ou arenoso. Outros são abastecidos pela chuva que se infiltra no solo. A maneira mais econômica e ecológica de formar essas caixas d'água naturais é a preservação da cobertura vegetal para proteger o solo e manter sua permeabilidade. Há maneiras de auxiliar a natureza nesse serviço, por meio da recarga artificial, com a injeção de água diretamente no aquífero através de poços ou a infiltração controlada em áreas específicas. Nas áreas rurais, a prática de construir barraginhas subterrâneas ou superficiais para recolher as enxurradas que escorrem ao longo de estradas vicinais municipais contribui para a recarga de aquíferos. O terraceamento do solo em faixas longitudinais ao longo das curvas de nível é uma técnica que evita o escorrimento de enxurradas e facilita sua infiltração no solo. Barragens subterrâneas são estruturas construídas sob o solo para barrar o fluxo de água subterrânea, permitindo o seu acúmulo. Barragens subterrâneas interrompem o escoamento e possibilitam que as águas sejam posteriormente aproveitadas.
Os lençóis freáticos se formam quando a água encontra uma camada impermeável do solo e passa a se acumular sobre ela. Dali elas são extraídas em cisternas ou poços mais rasos. Já os poços artesianos a extraem de maiores profundidades, muitas vezes estocadas sob pressão entre fissuras nas rochas. Em vários casos, elas jorram com força sem necessidade de bombeamento, como no caso dos poços jorrantes no estado do Piauí, perfurados em busca de petróleo, mas que encontraram depósitos subterrâneos de água.
Figura: Funcionamento de um aquífero
A preservação dos aquíferos existentes que estocam água de modo natural no subsolo, bem como a recomposição vegetal são ações mais baratas do que as obras de infraestrutura como os reservatórios construídos para armazenar água.
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