Entre as causas que levam as pessoas à miséria estão as doenças, a velhice, serem atingidas por desastres, sofrerem o impacto de outra cultura e serem pouco resilientes ou incapazes de adaptar-se aos impactos e choques sofridos.
Os atingidos por eventos críticos extremos - inundações, deslizamentos de encostas, furacões, elevação do nível dos mares etc, incêndios - quando não perdem a vida, frequentemente perdem o que tinham de bens materiais: casas, móveis, equipamentos domésticos, carros. O produto do trabalho de anos desaparece em minutos, sendo dificilmente recuperável. Pessoas atingidas por desastres tendem a mergulhar na piscina da miséria. Emergências climáticas produzem e distribuem miséria.
As emergências climáticas podem agravar desigualdades socioeconômicas, pois os mais vulneráveis a sofrerem perdas e danos são aqueles que menos podem se defender e encontrar alternativas, quando ocupam áreas de riscos de inundações e de deslizamentos de terra etc. Quando ocorrem desastres, os filipinos e os habitantes de ilhas no Pacífico em vias de extinção por afogamento e refugiados ambientais ficam entregues à própria sorte, num salve-se quem puder diante da falta de capacidade para atender a todos os que precisam de socorro. Por outro lado, a miséria pode agravar as crises climáticas. Assim ocorre, por exemplo, quando, para sobreviver, pessoas precisam desmatar e provocam a emissão de gases de efeito estufa.
A riqueza material também pode agravar as crises climáticas, com os estilos de vida pessoais e coletivos que desperdiçam ou que sejam energeticamente ineficientes, tais como hábitos alimentares que levam ao desmatamento; ou o viajismo, que queima combustíveis fósseis, ou o consumismo, que pressiona os recursos da natureza.
Em alguns casos, a crise climática pode produzir riqueza. Isso ocorre, por exemplo, em áreas frias que se tornam temperadas e agricultáveis, como na Sibéria, no Canadá, no Alaska, na Groenlândia e nas terras próximas ao Ártico, que são objeto crescente de cobiça. (James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, especula que no final do século XXI a população humana total seria de cerca de 1 bilhão de habitantes, localizados ao redor do Ártico). Alguns setores da economia também se fortalecem, tais como os de atendimentos a desastres.
Para se enfrentar as catástrofes que levam à miséria deve-se principalmente, prevenir para que as pessoas sejam menos atingidas e não apenas atuar depois que os desastres ocorreram e produziram seus danos. Em cada localidade, a adaptação pode adotar posturas prudentes, tais como não ocupar áreas de risco e montar sistemas de alerta e de prevenção. Assim, reduz-se um dos componentes que geram a miséria material.
Compreender as emergências climáticas, atuar no sentido de que sejam prevenidas e adaptar-se a elas, é uma forma abrangente, generosa e esclarecida de atuar por maior justiça social e pela redução da miséria. O cidadão consciente tem nisso um papel fundamental, ao se comportar de modo ecologicamente responsável e ao atuar para que todos os níveis dos governos, bem como as empresas, adotem tal padrão de comportamento.
As crises climáticas afetam a disponibilidade de água e agravam a ocorrência de eventos críticos – secas, enchentes, rompimentos de barragens etc. As previsões de elevação do nível do mar fazem com que se evite construir em áreas de risco e se definam áreas non edificandi para evitar os prejuízos sociais e econômicos decorrentes de possíveis desastres.
A emergência climática tende a incidir mais fortemente sobre os países tropicais, com menor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e poderá ser mais um fator de agravamento de desigualdades e de injustiças sociais.
Com o aumento de temperatura, aumentará a demanda para a agricultura e para a dessedentação dos seres vivos, multiplicando as situações de estresse hídrico. Haverá efeitos sobre as vazões de rios e sobre a operação de sistemas de geração de hidroeletricidade.
Aumentam os refugiados do clima e cada vez mais pessoas deslocam-se de seus locais de origem devido a emergências e desastres.
Catástrofes, desastres, calamidades, colapsos e tragédias despertam indivíduos e sociedades de seu torpor e anestesia. A dor e o sofrimento levam as pessoas e coletividades a aprenderem a importância de adotar práticas que previnam e evitem novos desastres. A pedagogia do susto acorda o cidadão e torna-o consciente das consequências ambientais negativas de seus hábitos de consumo e de seu estilo de vida. Exemplos: enchentes, ciclones e tempestades tropicais em Santa Catarina evidenciaram os riscos do inadequado uso do solo e do desmatamento; provocaram estragos e aumentaram a compreensão de como o El Nino e processos globais tem consequências desastrosas locais; deslizamentos de encostas devido a temporais na serra fluminense provocaram prejuízos e mortes e chamaram a atenção para a necessidade de adequado uso do solo. Multiplicam-se exemplos: em 2024 o Rio Grande do Sul sofreu enormes inundações. Na Espanha, a região de Valencia sofreu uma hidrotragédia em outubro de 2024, com muitas mortes e prejuízos econômicos. Os desastres do rompimento de barragens de rejeitos de minério em Mariana e em Brumadinho e suas trágicas consequências sobre as bacias do rio Doce e do Paraopeba desencadearam ações de reparação; o risco associado às emergências climáticas desencadeia esforços para compreendê-las e atuar de forma responsável; a crise hídrica no sudeste brasileiro provocou um choque de consciência e ações para combatê-la. Entretanto, tal despertar pode não ser durável e ser esquecido tão logo passem os traumas mais agudos. Quando a crise passa e se arrefece, a tendência é de se dissolverem os esforços de integração e articulação e do desastre cair no esquecimento.
Há modos distintos de lidar com tragédias: reações emocionais, com pânico, terror, medo, paralisia; reação racional, compreendendo a dinâmica da tragédia, como podem ser evitados os seus efeitos mais desastrosos e como mobilizar os meios para fazê-lo. A música de Assis Valente, E o tal do mundo não se acabou, relaciona alguns desses modos de se relacionar com as calamidades e catástrofes.
Em muitas tragédias e calamidades a água é a substância central. Sua presença em excesso na atmosfera induz a formação de temporais e tempestades. Associada aos ventos, forma os furacões e ciclones, com efeitos devastadores. Seu excesso em inundações e enchentes causa perdas econômicas e mortes. Sua presença excessiva nos solos encharcados aumenta o seu peso e provoca deslizamentos de encostas de morros. Sua falta ou escassez nas secas e estiagens também traz sofrimento e mortes nos incêndios florestais.
A secura facilita que os materiais se inflamem e dêem origem aos incêndios e queimadas florestais.
Na Holanda houve um aprendizado histórico para lidar com as inundações do mar. Incêndios florestais, inundações, secas e outros eventos podem ser melhor enfrentados.
Os eventos extremos têm elevado o tempo dedicado a informações sobre a água na mídia, na comunicação e na política.
A gestão temerária se caracteriza por esperar a situação chegar ao limite do insuportável para então tomar alguma providência e intervir. Uma gestão menos temerária ou mais preventiva faz uso de outros caminhos que evitem os sofrimentos associados a tais situações extremas. Provoca-se a integração, a coordenação, o trabalho cooperativo, em mutirões que se voltam para aliviar essas situações e seu estresse.
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