Embora os termos "águas" e "recursos hídricos" sejam frequentemente usados de maneira intercambiável, eles têm significados distintos
em contextos técnicos e jurídicos. Essa distinção é importante, especialmente em legislações e políticas de gestão da água, que visam equilibrar o uso humano e a conservação ambiental.
Água refere-se ao elemento natural em seu estado bruto ou puro. Inclui todas as formas em que a água existe no ambiente natural: rios, lagos, oceanos, aquíferos subterrâneos, gelo, vapor na atmosfera, entre outros. Tem uma conotação ampla e genérica, podendo incluir a água que não está necessariamente sendo utilizada ou gerida. Está relacionada ao ciclo natural da água e a aspectos físicos, biológicos e climáticos.
Recursos Hídricos referem-se à água enquanto um recurso utilizável e gerenciável para fins humanos. Envolve a gestão, conservação, distribuição e uso da água para atividades como abastecimento doméstico, agricultura, indústria, geração de energia, lazer e preservação ambiental. O termo inclui aspectos econômicos, sociais e ambientais, além de se concentrar na disponibilidade e na sustentabilidade da água para atender às demandas humanas e ecológicas. Geralmente está associado a políticas públicas, legislação e sistemas de governança para garantir o uso racional e sustentável da água. A água é vista como um recurso natural juntamente com o solo, o oxigênio, a energia do Sol, as florestas, os animais. A água superficial ou subterrânea é algo a que se recorre, como um ingrediente numa receita, para se obter um resultado. Isso denota uma visão que a trata como algo de valor econômico, numa abordagem utilitária. Ela serve para atender demandas ou necessidades humanas. Recursos hídricos se referem basicamente àquela porção das águas aproveitável como insumo para a economia: as águas doces superficiais e subterrâneas. Não são consideradas como recursos hídricos as águas dentro dos seres vivos (biosfera), nos oceanos, no interior quente da terra (pirosfera), no espaço sideral (cosmosfera). Deixa de fora, ainda, as águas na atmosfera, pelas dificuldades para colocá-las a serviço de demandas humanas. Seu valor ecológico e seu valor como um patrimônio a ser protegido ficam em segundo plano.
Todo recurso hídrico é água, mas nem toda água é recurso hídrico. Um exemplo prático: um rio em seu estado natural é "águas". O mesmo rio, quando estudado e gerido para fornecimento de água potável, irrigação ou geração de energia, é tratado como parte dos "recursos hídricos".
Um recurso é algo a que se recorre, para atender a uma necessidade ou demanda ou para obter algum produto ou resultado. Recursos humanos é a expressão que se usava nos departamentos de empresas e órgãos públicos que cuidam das relações com os trabalhadores ou servidores. Quando a expressão foi substituída por gestão de pessoas, o ser humano passou a ser visto como uma pessoa e não simplesmente como um recurso.
A percepção das águas como recursos ainda predomina em leis, designações de órgãos públicos e de empresas. A abordagem utilitária da gestão de recursos hídricos nem sempre questiona se as demandas que se busca atender são essenciais ou supérfluas, se as necessidades são reais ou induzidas por interesses particularistas, ou por processos de manipulação. Já a gestão integral do ciclo da água inclui tais considerações sobre quais as destinações que melhor atendem ao interesse público e coletivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário