Foto: Maurício Andrés
Em Brasília, nas noites dos meses mais secos, sofre-se incômodos devido à baixa umidade relativa do ar. Então usam-se umidificadores para aumentar o teor de água no ar. A cada noite, cerca de dois litros são transformados em vapor. Isso alivia a pele seca e umedece as mucosas do nariz e da garganta, reduzindo o desconforto e o ressecamento. Muitos estabelecimentos comerciais usam umidificadores de ar para amenizar a secura. A evaporação nos jardins de plantas aquáticas, do Lago Paranoá e de fontes luminosas também umidifica o ar.
Na escala do continente, o papel de umidificador do ambiente é desempenhado pela floresta amazônica.
Apesar de corresponder a apenas 3% do volume total existente no planeta, a água na atmosfera é crucial para a sobrevivência humana e para desenvolver as atividades econômicas. As variações que ocorrem nesse pequeno volume afetam o clima e geram eventos com profundas consequências.
O sol presta um grande serviço ao evaporar quantidades fabulosas de águas dos oceanos para a atmosfera. O sol é o maior dessalinizador natural da água, que se dessaliniza ao subir para a atmosfera. Ao atingir grandes altitudes ela esfria, se condensa e forma as nuvens que são transportadas pelos ventos. Depois, com a força de gravidade, ela se precipita sobre a terra com as chuvas, neve e granizo. A qualidade das chuvas é influenciada pelos gases presentes na atmosfera. Agrotóxicos e gases poluentes evaporam e poluem as nuvens, que caem na forma de chuvas ácidas e destroem a vegetação ao invés de nutri-la.
Na atual emergência climática, é por meio da água que acontecem os eventos extremos de seca e de inundações. Estiagens e enchentes são consequências de sua falta ou excesso na atmosfera. Essa presença na atmosfera é uma parte essencial do ciclo integral da água. Com o aumento da temperatura do planeta devido ao efeito estufa e a consequente evaporação, aumenta a quantidade de água na atmosfera. As chuvas tornam-se mais intensas e provocam temporais, furacões, ciclones tropicais, enchentes, inundações e deslizamentos de encostas. Tais eventos críticos vêm se tornando mais frequentes e intensos. Regiões que não sofriam com esses desastres passaram a ser atingidas, como mostrou o ciclone tropical Catarina, ocorrido em 2004 no litoral do estado de Santa Catarina.
A água é uma substância da natureza que reage diretamente às variações de temperatura: dilata-se e se contrai, muda do estado líquido para o sólido ou gasoso. Ela está presente na superfície do planeta, no seu interior e na atmosfera.
Uma parte do ciclo das águas existe na forma de vapor, nas nuvens, nos rios voadores. Essa parcela das águas é pequena quantitativamente, mas influencia crescentemente a vida, a economia, os desastres que impactam as populações vulneráveis, os ribeirinhos, os pescadores, o transporte hidroviário, a geração de energia hidrelétrica e todos os campos da sociedade e setores da economia. Vendavais associados a tempestades derrubaram árvores nas cidades; incêndios florestais se propagam no clima seco e quente; turbulências atingem e colocam em risco as aeronaves em voo. Inúmeros e variados fenômenos críticos e extremos se tornam mais frequentes.
Seca e estiagem inflamam os incêndios florestais
As plantas têm um papel importante ao evaporar água para a atmosfera, onde se formam as nuvens, os rios voadores, as águas celestiais que chovem e completam o ciclo. A população de vegetais no planeta tem decrescido, com o desmatamento, e a população animal tem crescido, com a pecuária e a criação confinada. Os vegetais absorvem gás carbônico e fazem a fotossíntese que produz oxigênio; já os animais fazem o inverso, consomem oxigênio e exalam gás carbônico.
É crescente o conhecimento sobre a atmosfera, seu teor de umidade e o vapor nela existente, sobre evaporação. As informações sobre a previsão do tempo e do clima têm sido usadas especialmente nas emergências hídricas, como sinais de alerta, luzes amarelas que se acendem para avisar o que está por vir.
O conhecimento sobre o organismo da Terra e os ciclos biogeoquímicos permite compreender como o que ocorre numa parte do globo afeta as demais. Assim, por exemplo, o fenômeno El Nino, que traz o aquecimento do oceano Pacífico, influi diretamente sobre a distribuição de chuvas na América do Sul, agrava secas no nordeste brasileiro e provoca inundações no sul do país. Os rios voadores que se formam a partir da umidade evaporada na Amazônia são essenciais para prover chuvas no centro-oeste e no sudeste brasileiro. As árvores funcionam como bombas que por meio da evapotranspiração aumentam a umidade na atmosfera. O cientista e engenheiro agrônomo Antonio Donato Nobre estudou como os aerossóis atmosféricos liberados pelas árvores funcionam como núcleo de formação de chuva e proporcionam que a umidade proveniente da evapotranspiração das florestas seja condensada em nuvens que chovem sobre a América do Sul e evitam a formação de desertos.
Numa aula sintética sobre o clima ele transmite esses conhecimentos, compartilhados e viralizados aos milhares nas redes sociais, o que demonstra o interesse que despertam hoje as águas celestiais, diante das enchentes e secas cada vez mais graves e frequentes que acontecem no Brasil. Quando se enfraquecem os rios voadores devido ao desmatamento, reduzem-se as chuvas, o que afeta as águas de superfície e a recarga dos aquíferos subterrâneos. O desmatamento na Amazônia afeta a disponibilidade de água no sudeste.
É relevante reconhecer os serviços que a floresta presta gratuitamente e atuar com prudência, inteligência e sabedoria, valorizando-se esses serviços. Perdendo-se a floresta, perde-se esse serviço ambiental gratuito prestado por ela.
A natureza tem uma ótima maneira de estocar água na atmosfera, por meio da evapotranspiração (a evaporação a partir das plantas) e a evaporação dos oceanos, sem necessidade de tecnologias e interferências humanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário