Trinta por cento de toda a água doce do planeta é subterrânea, o que corresponde a 30 vezes mais do que o volume de toda a água doce superficial existente. Recentemente, pesquisas indicam a presença de quantidade de água superior à de todos os oceanos, a grandes profundidades, entre o manto superior e o manto inferior da Terra.
As águas subterrâneas são um aspecto desconhecido do grande público, pois elas se encontram longe da percepção sensorial – da visão, do olfato, da audição - que é um dos principais caminhos para despertar a consciência e alertar para os problemas. Assim, as águas subterrâneas tornam-se mais vulneráveis de serem contaminadas, mais sujeitas a serem exauridas sem que se conheçam as dimensões dos reservatórios e aquíferos. Faltam dados, informações e conhecimentos sobre elas. Falta comunicação para evidenciar sua importância. Elas se tornam assuntos apenas quando escasseiam, quando se rebaixam os lençóis freáticos, quando os aquíferos subterrâneos se exaurem, quando acontecem as secas subterrâneas, quando se secam nascentes.
Nesse campo, há uma terminologia específica de pouco conhecimento público: aquíferos livres ou confinados, área de recarga, conectividade, fluxo de base, reserva renovável, reserva explotável, sistema aquífero, e alguns termos mais familiares, tais como lençol freático, poço artesiano e cisterna.
Ainda está por incorporar-se na consciência brasileira a importância das águas subterrâneas. Sua poluição continua sendo um problema percebido apenas por especialistas, sem grande visibilidade pública. Hidrogeólogos e outros especialistas sabem a gravidade do que está ocorrendo com a sua superexploração excessiva. Sabem que elas poderão estar menos disponíveis no momento em que mais forem necessárias.
Trata-se de um recurso vulnerável a poluições de todos os tipos, difíceis de serem controladas ou revertidas. A sua qualidade é afetada por vazamentos de postos de combustíveis, chorume de cemitérios e de lixões, aplicação de agrotóxicos em lavouras, solos contaminados por substâncias poluidoras que se infiltram nos lençóis e também pelo fracking, tecnologia de extração de gás de rochas de xisto. Uma vez poluídas as águas subterrâneas, torna-se difícil sua recuperação. Melhor e mais econômico é protegê-las como patrimônios valiosos do que deixar que sejam poluídas para depois as recuperar.
Expandir e aprofundar o conhecimento técnico e científico sobre as águas subterrâneas é uma necessidade para que se produzam dados e informações úteis para a gestão responsável e integrada. Há vários centros de pesquisa sobre águas subterrâneas e entre eles destaca-se o CEPAS da USP.
É preciso realizar estudos básicos sobre os aquíferos, especialmente em regiões críticas de estresse hídrico, para que isso seja levado em conta na tomada de decisões dos órgãos outorgantes, dos comitês e conselhos, das prefeituras ao autorizarem novos parcelamentos do solo, quanto à forma de uso.
A reserva de água subterrânea é um patrimônio e riqueza que cumpre proteger e usar conscientemente. As reservas subterrâneas merecem ser tratadas como minas valiosas, mais valiosas do que foram as minas de ouro no passado.
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