Drenar é fazer escoar. A drenagem natural se faz a partir da força da gravidade, pela qual as águas escoam de pontos mais altos para pontos mais baixos de um terreno. Na escala continental, cada bacia ou região hidrográfica representa um espaço territorial que compartilha água de uma mesma rede de drenagem.
Mapa das bacias hidrográficas da América do Sul e suas redes de drenagem
Por meio das redes de drenagem as chuvas escorrem pela superfície ou infiltram-se no solo. Solos arenosos ou porosos são mais permeáveis e facilitam a drenagem natural; já os solos argilosos em geral são menos permeáveis. A compactação do solo em estradas, em áreas agrícolas trabalhadas com máquinas pesadas e sua cobertura com asfalto ou cimento também o tornam impermeável, dificultam a infiltração de água de chuva e aumentam as enxurradas.
Terrenos acidentados e com alta declividade permitem o escoamento mais rápido de água. Dependendo da força das enxurradas, há erosão e carreamento de solos. Terrenos planos nas partes baixas, áreas úmidas, pântanos, várzeas, terrenos em fundos de vales são o destino dessas águas. Quando não se valorizam os serviços ambientais prestados por essas áreas, são propostas e realizadas obras que drenam essas águas e secam essas áreas, para aproveitar economicamente esses espaços. Há danos ecológicos e prejuízos econômicos, quando os leitos de inundação dos rios são ocupados e as águas extravasam.
Nas áreas rurais, barraginhas e drenos em curvas de nível ajudam a reter água de enxurradas e a fazê-las infiltrar nos solos. Em ambientes urbanos, é frequente se construírem soluções de engenharia tais como redes coletoras de águas pluviais, piscinões, jardins filtrantes, pavimentação permeável, para regular a drenagem e reduzir riscos de cheias.
Pavimentação permeável
Planos diretores, planos de saneamento local e planos de drenagem são alguns dos instrumentos de que dispõe o município para lidar com a drenagem e reduzir as inundações.
Os alagamentos de curta duração acontecem durante um pico de chuva e em pouco tempo vão embora, deixando um rastro de destruição. Um padrão de uso do solo que evite a pavimentação impermeável numa grande superfície reduz riscos de enchentes.
A micro drenagem difusa e descentralizada no território da bacia hidrográfica permite que a água se infiltre no solo mais poroso.
Jardins filtrantes distribuídos no território prestam esse serviço de infiltração. Isso reduz a necessidade de construir piscinões ou grandes reservatórios para armazenar a água durante os períodos de pico de cheias.
No que se refere à ocupação do solo, leis urbanísticas em várias cidades não permitem índices excessivos de impermeabilização dos terrenos, que agravem inundações. Esse tema é de difícil fiscalização, já que um proprietário de terreno, depois de conseguido o alvará de construção, pode cimentar até 100% da área. Mas existem meios, por fotointerpretação, de identificar os índices de impermeabilização.
As enchentes urbanas têm uma componente climática, que é associada ao aumento das chuvas. As enchentes catastróficas que ocorreram no Rio Grande do Sul no início de 2024 e que tem ocorrido em cidades de outras regiões do Brasil e em outras partes do mundo têm um forte componente climático e exigem conhecimento e monitoramento para a prevenção de desastres.
As enchentes também têm uma componente não climática, como, por exemplo, o entupimento de redes de drenagem pelo lixo ou o escoamento superficial aumentado, devido à impermeabilização dos solos.
A capacidade de escoamento da rede de águas pluviais é dimensionada conforme o tempo de recorrência das chuvas, isto é, o tempo em que um volume de chuva alto volta a ocorrer.
A operação e manutenção do serviço de drenagem tem custos que precisam ser recuperados ao longo do tempo. Isso implica em definir uma taxa ou tarifa. Diante disso, há prefeitos que preferem não gerenciar a drenagem, porque a disposição a pagar dos contribuintes é baixa e ele pode ter desgastes eleitorais. Isso traz prejuízos materiais, riscos de vida e outros custos.
Nas periferias urbanas de cidades sensíveis à água, quando novos loteamentos são desenhados, o desenho urbanístico precisa considerar a existência de nascentes e córregos. Manter parques e áreas verdes permeáveis nesses parcelamentos ajuda a reduzir os danos causados por inundações. Em cidades pouco sensíveis à água, os parcelamentos do solo maximizam o número de lotes e não consideram as nascentes, para aumentar os ganhos econômicos. Na busca de lucros, ignoram-se os prejuízos ecológicos e hídricos. Pratica-se o desenho ganancioso, sem limites ou cuidados ecológicos.
Nas cidades brasileiras e nas franjas entre as áreas urbanas e rurais pratica-se uma ocupação irregular em que governos fecham os olhos para práticas de invasores e ocupantes. Posteriormente as condutas passam a ser regularizadas em Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) e os proprietários oferecem algumas compensações, mas os danos ecológicos já foram causados. Os problemas decorrentes de má drenagem, alagamentos, inundações, se multiplicam.
O cuidado com a drenagem é um componente chave das cidades sensíveis à água. Aprender com a natureza os processos da drenagem natural pode inspirar soluções de planejamento que reduzam os problemas de drenagem em áreas urbanizadas.
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