segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Os Seis Sábios e a Água


Havia, numa terra distante, seis sábios cegos que buscavam entender o mundo por meio do toque, do olfato, da audição e do paladar. Um dia, ouviram falar de algo essencial à vida, presente em toda parte, mas que ninguém sabia descrever completamente. Chamava-se "água". Intrigados, decidiram explorá-la por si mesmos.

O primeiro sábio estendeu as mãos sobre um lago e mergulhou os dedos. Sentiu algo fresco, fluido, que se moldava ao seu toque e fugia de suas mãos. Ele declarou:
— A água é uma seda invisível, um manto que dança e nunca se deixa agarrar!

O segundo sábio, caminhando pelas montanhas, tocou um bloco de gelo. Surpreso, exclamou:
— Não! A água é dura e fria como uma rocha, mas diferente, pois derrete ao calor da mão. É uma pedra que se desfaz com o tempo.

O terceiro sábio subiu até onde as nuvens roçavam as montanhas e sentiu a umidade no ar. Inspirou profundamente e sorriu:
— Estão enganados! A água é um sussurro no vento, uma presença que não se vê, mas que se respira. É o espírito da vida.

O quarto sábio caminhava pelo deserto quando, cavando a terra, sentiu a umidade oculta no subsolo. Com os dedos sujos de barro, refletiu:
— A água é um segredo escondido sob nossos pés, um fio invisível que sustenta as raízes das árvores e alimenta a terra em silêncio.

O quinto sábio, sedento, bebeu de um odre e percebeu algo novo. Sentiu a água deslizar por sua garganta, refrescar seu corpo e dar-lhe força. Ele então proclamou:
— Vocês todos estão errados! A água é parte de nós, corre em nossas veias, mantém-nos vivos. Ela não está fora, mas dentro de cada ser.

O sexto sábio, ouvindo a chuva cair sobre as folhas e o tamborilar das gotas no telhado, concluiu:
— A água é música! Uma canção que desce do céu, canta nos rios e adormece no oceano.

Os seis sábios voltaram a se reunir e começaram a discutir, cada um defendendo sua verdade. Foi então que um viajante que os ouvia sorriu e disse:
— Vocês todos tocaram a água, mas cada um conheceu apenas uma de suas formas. A água é tudo isso: líquida, sólida, gasosa; visível e invisível; escondida e revelada. Nenhuma verdade anula a outra.

Os sábios silenciaram, refletindo. E, naquele momento, compreenderam que a água, assim como o mundo, não pode ser descrita por um único ponto de vista. É preciso somar todas as percepções para chegar a uma verdade maior.

E assim seguiram sua jornada, mais sábios do que antes.

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